sábado, 16 de fevereiro de 2013

Queda dágua



Sofro em mim
lá tão profundo
de ver o acontecer de mãos atadas
que agora desisto do que nela se inclue
do que surge
em termos de acreditar não ser nada
que não está acontecendo
me iludir, me enganar radicalmente

Me recuso a ser
como um prisioneiro ou guarda de cela
à essa obrigação imposta
à essas grades
ao que me obriga
a ver sempre
essa mesma paisagem.

Também não quero
adotar um vício enganador
para que a festa continue da noite
até o dia que me aprouver
com pessoas que não existem
a surgir iluminadas por luzes ilusórias
à luz de vela
ou à luz do que eu possa imaginar

Quero que eu construa um real
quase real
entretanto sem a dor
de não poder de atravessar
o que é escuro
num voo até as janelas abertas
para o dia claro

Canalizar esse sentir
tão caudaloso
que me faz desaparecer
quando mal
a noite chega à beira
na escuridão

quando essa substância
não me deixa ver
que é uma corredeira
e que nela habitamos
sem a conhecer
embrulhados
rolando por dentro dela
a vida inteira

se transformando
numa gigantesca queda'água
incontrolável
que chamamos
de inconformismo

e que inunda
a cidade dos sensíveis
                                 
                                                                                                                                foto de John Pfah


Sofrer é
no entanto
como de mim venho a saber
- se à mim ou ao não ser
pertenço
quer queira
ou não queira.

Porém
não há de tornar-se perpétuo
porque nada mais é eterno
ainda mais, tão cruel se revela
que não é o que eu quero
acordado
e nem dormindo
nem lúcido
nem alucinando
me perpetuando
a me vitimizar sob esse teto
inundado por tal fluência poderosa
a impiedosa produção da natureza

                                                                                               foto de John Pfah


Contudo,
dessa revolta contra
o que não dou conta
me conscientizo
que toda queda d'água traz a força
que produz energia
e que justo desse manancial
o potencial se produz e revela
o que dali trabalha, cria
para que surja algo novo
e reconfortante

algo que avise
a quem lhe encontre
de como supera-la
como encontrar um barco corajoso
e indomável que a atravesse
ou  a ponte imaginária suspensa
sobre o que sabemos
que existe e não domamos

por enquanto
pois sei que amanhã tudo muda
- como será com ela -
a primavera não inverno
rio manso e límpido
colorido ou aquarela
onde todos se divertem e nadam

Aí corro e me jogo n'água
arranjo um barco
e velejo sem rumo
e, quando dele eu sair
eu pinto outra tela






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