Que arrogância a minha,
a de cobrar posições
de quem quer que seja,
de herói,
de herói,
ou de vanguardista,
de sábio
ou sequer de apenas de estar
na luta!
E pra que serviram
na luta!
E pra que serviram
essas lutas,
empresas, batalhas,
sejam no terreno
do corpo físico
do corpo físico
ou da mente?
Não vencem agora
Não vencem agora
de novo
essas mesmas
"novas mentiras",
nossos
"novos enganos",
"novos enganos",
as mesmas
mesquinharias?
Temos ainda
Temos ainda
em mente,
pelo menos,
os exemplos daqueles
que apenas
com doçura
com doçura
foram sábios ,
ou heróis na vanguarda
das lutas
de sobrevivência,
dentro da guerra
contra a hipocrisia
e a crueldade?
Os verdadeiros místicos
Os verdadeiros místicos
são aqueles que sabem que nunca determinarão
onde termina a razão,
onde termina a razão,
o pensamento,
e se inicia
o Abstrato Intangível,
o que não se explica
o que não se explica
apenas com teorias
e sim
com o enternecimento
e o calor de um olhar,
uma expressão de pasmo
e submissão ao Intangível.
E percebe daí ,
E percebe daí ,
então,
como exercer o perdão,
porque este,
que é o fundamento
que é o fundamento
do grande místico,
é a simples compreensão
de saber falível,
de saber falível,
de se saber
quão pequenos e torpes
podemos ser,
apesar de lutarmos
apesar de lutarmos
pela imagem
de grandes homens,
porque somos
mínimos,
mínimos,
um nada,
que viemos de uma massa
disforme microscópica,
que passou a viver
que passou a viver
e, desde então,
luta por isso
como pode.
E, portanto,
E, portanto,
dessa relação
podemos compreender
nossa frágil qualidade
de seres humanos,
animais que lutam
por condições melhores,
sejam de vida,
sejam de dignidade,
ou pelo que se ama
E, daí, o perdão,
E, daí, o perdão,
pelo entendimento
àquilo que se ama
e nossa insignificância.
Então, quem são
Então, quem são
esses grandes homens
agora?
Esses grandes sábios
Esses grandes sábios
ou cientistas?
Costuramos
Costuramos
o incompreensível
e natural sentido do acaso,
do destino que vem do caos,
à uma razão qualquer,
assim como
meu pai ou meu avô
meu pai ou meu avô
costuravam panos
em sua alfaiataria.
O acaso,
O acaso,
a coincidência,
é uma grande parte
da Razão.
Mas agora
Mas agora
morreu o romantismo,
assassinado
pela Razão,
Só nos surpreende
Só nos surpreende
a tecnologia,
não apenas o techno,
seu uso,
o fazer,
o fazer,
mas sim,
a surpresa da invenção
da técnica à serviço
do capital.
E o capital da generosidade?
E o investimento da verdade?
E os atos que achamos bons por suas consequências?
E a possibilidade
do capital.
E o capital da generosidade?
E o investimento da verdade?
E os atos que achamos bons por suas consequências?
E a possibilidade
do sentimento e do amor?
Dominamos os crimes?
Justificamos os demandos?
Reprimimos a violência?
Os homens deixaram
Dominamos os crimes?
Justificamos os demandos?
Reprimimos a violência?
Os homens deixaram
de explorar os outros homens?
Tudo é relativo
Tudo é relativo
e tudo deve ser considerado.
A razão
A razão
traz um lado maravilhoso,
da praticidade,
da compreensão
de tantos mistérios,
de tantos mistérios,
mas não pode
exterminar o que é humano,
o sensível,
o sensível,
a única coisa que em nós,
seres viventes,
na infância,
foi pastor de cabras,
como tantos sábios
o foram antigamente,
o foram antigamente,
e de lá vieram
com suas pequenas luzes
até seus reinos infinitos.
Mas, apesar de envolvido
Mas, apesar de envolvido
na ignorância,
ou inocência,
pelo desconhecimento,
pelo desconhecimento,
não teria ele sido
mais feliz naquela época?
Não venceu o caminho obscuro
Não venceu o caminho obscuro
até as trilhas na luz do dia?
Não tinham mais esperanças?
Mais sorrisos,
Não tinham mais esperanças?
Mais sorrisos,
apesar dos dias difíceis, duros?
Ou apenas tinha a doçura
Ou apenas tinha a doçura
com que afagava cada ovelha
no seu focinho,
no seu focinho,
enquanto elas mansas
pastavam contentes
o seu capim?
Porém,
Porém,
da rusticidade
e das intempéries,
ele se consolava
de imediato
de imediato
e considerava
como um pagamento autêntico,
quando uma delas
quando uma delas
o olhava,
como que dizendo,
se nos afaga
se nos afaga
é porque é
e a grama macia.
Meu bom pastor,
Meu bom pastor,
o verde que nos aponta
é apenas
o cuidado de tuas mãos
o cuidado de tuas mãos
e o amor,
o calor dos teus braços,
quando às vezes
nos leva no colo.
Nos conduz
Nos conduz
até onde possamos
nos aquietar seguras,
na sombra de brancas nuvens
na sombra de brancas nuvens
e à luz plácida das estrelas.
À cada noite,
À cada noite,
deixa-nos nos aquecer
à volta da sua fogueira,
e nos protege dos lobos,
e nos protege dos lobos,
porque és
o bom pastor.
O amor,
O amor,
o sentimento mais elevado
e humano,
vale mais
vale mais
que a técnica
que o capital impõe.
Porém,
Porém,
talvez seja tarde
para uma reconciliação.
Mas não basta apenas à ti,
seus discursos adocicados
e sentimentais,
e sentimentais,
tuas canções,
que feliz compõe,
para termos a certeza
da sobrevivência
de uns anos a mais
nessa natureza cruel
nessa natureza cruel
e traiçoeira
que a ela própria
reinventa e aprimora,
reinventa e aprimora,
lá na infância o rebanho
se aconchega,
o pastor a reúne
para que não se percam
uma da outra.
Ele olha a mais velha
Ele olha a mais velha
que parece dizer:
não tenha medo
te compreendemos,
te compreendemos,
te obedeceremos.
E só sentirmos
o calor meigo dos teus dedos,
para sabermos de ti,
que o caminho
pode ser de pedras rudes,
mas traz a certeza
mas traz a certeza
de que há um dia
um pasto mais verde adiante.
Durma tranquilo,
Durma tranquilo,
que nós te vigiamos,
e o que necessitas
e o até o que não necessitas
e o até o que não necessitas
nós lhe daremos.
O bom pastor
O bom pastor
é aquele a quem o rebanho
cerca por livre
e espontânea vontade.
e espontânea vontade.
É aquele
que nos deixa livres
e felizes
e, no entanto,
nos protege com coragem,
nos aquece no inverno,
nos aquece no inverno,
acende a sua fogueira,
e nos aponta o horizonte
e nos aponta o horizonte
com a vida tranquila.
Dorme, meu menino
Dorme, meu menino
e usa nossa lã macia.
Aconchega tua cabeça
Aconchega tua cabeça
e descansa em paz,
porque,
porque,
acima de você,
a sua luz está a brilhar
e a noite
e a noite
é como nossa lã,
teu abrigo entre os céus.
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