sábado, 6 de março de 2010

confissão
















Às vezes
quando escrevo
jogo mesmo o pensamento
para debaixo da mesa
a mão logo desperta
levita, fica acesa
por um espírito volátil
que quase sempre acerta

Transcrevo harmonias que nunca ouvi
descrevo visões, fantasias
mas, exponho cruel minhas tensões
me ponho a nu
metaforizo
e disponho como esteta

Assim
quando tomo consciência
me surpreendo sempre
a olhar tudo retornar ali descrito
os escaninhos que nunca vi
alegria,a estrada que caminho
o grito

e, às vezes
o certo é mesmo o torto
e um ponto o infinito
uma flor se abre de uma ferida
a dúvida que não existo
sem pudor surge o invisível exposto
e perfeitamente descrito

Em cada linha sinuosa ou reta
desenha-se com minúcia
a luz que se faz concreta
tenho diante de mim
o abismo
o puro e o desejo
a minha alma secreta

Poema seco


Uma vez
escondi a emoção no bolso
pus meu pensamento
sobre a lâmina fria da vida
e a deixei em cima da mesa

tranquei meu coração numa gaveta
e satisfeito
a chamei de fortaleza

Hoje
procuro a chave esquecida
por toda casa umida e lodosa
fria
a vazão secreta de meus olhos
pelos meus anos perdida
pois, meu peito vazio
se inundou de choro e surpresas
fez-se mar
onde vago à nau desabrida

Quando penso em terra seca
sei que o meu coração
lá bate feliz
amplo
cheio de calor e alívio
em sua guarida
morno e repleto na certeza
do que chamo
saudoso e triste da sina
de Beleza
A
DOR
DORME
MAS SE DÁ
ADORMECIDA
JE SUIS SI DOWN
NÃO
SE
DÁ A DOR
DORME SIM
ADORMECIDA
ME EXCITA
CITA
O
SIM
E
ME
CEDA
DORME TÁ
BEM CEDO
QUE O MEDO
MORRE
VAI
DORME
O FIM DA
DOR ENORME
NA MANHÃ AÍ
LUZ MORNA
MORRE DOR
MORRE
E
SE DO
AMOR MORRER
AMOR CEDA DOR
DOR DORME DORME DOR
A BELA ADORMECIDA DORME
ADORMECE ADORMECE ADORMECE
MERECIDA SE DOMINA A DOR SAI SE DORME
E SE DÁ A DOR SE DÁ A SEDA E DOR A DOR SE
TROCA TROCA TROCA TROCA TROCA TROCA
AMOR
AMOR
AMOR
AMOR
t
r
i
s
t
e
z
teza
dura
dura
ruge
moe
mura
tritura
cora cora
chora cara
ora ora ora
ora ora ora
a cara rouge
ruge ruge ruge
ruge ruge ruge
ruge ruge ruge
- corta -

Respirar
o sopro deste mundo
que ao contente surgir
ao fluir
do rompido ventre
o fundo
inunda a existência
com um berro
ao acordar

E tragar
o vento estranho
desse louco ambiente
que de tudo
faz sufoco
me faz rir
me faz doente
de alegre me faz pouco
de sofrer me faz persistente
que um dia vai acabar

Se me perguntam
e isso pra que é?
pra que serve a ladainha?
eu não respondo
essa pergunta é minha
tiro um anel do bolso
balanço os ombros
e digo
é da alegria
ou é da dor
é de quem a vida se casar!

E se insistem
mas, me diga
Pra que serve? Pra que serve?
esse balão que não flutua
não é anjo
não é bicho
nem é carro de corrida
não é boi
nem cacatua
que só me serve
pra grilar

E de lá
só se ouve um eco
pra que serve? pra que serve?
e eu não sei
e se soubesse
não era gente
nem estrela
nem cometa
nem abelha
era só um grito infinito
de um bebê

ao acordar