Las meninas - Velasquez
a mão se levanta
caem os pudores em não ser mais que eu
um dedo se ergue e aponta para mim
como um louco aponta para o céu
outro dedo surge e aponta para uma ave que canta
e já não sou eu mais o que flutua
mas o que percebeu agora
que os outros dedos da mão apertam a minha garganta
para que não diga nunca mais: - sou eu!
eu me levanto
e aponto a vista para a vida que me havia conhecido
e de mim temo o juízo
que por ela me perdeu
outra mão se levanta e diz calma!
é melhor não contar com o que não existe
com o que o que não houve
e nunca te pertenceu nem por um momento
para nunca mais pensar: - sou eu!
depois
dois dedos estalam
a ideia que me trouxe é a ideia
de quem não sou eu
a cabeça se ergue e se espanta a ver tudo que se passou
e não adianta
a vida é aquela infanta
a olhar o reflexo que não reflete quem se esqueceu
o olhar vê que nenhuma escolha é santa
com exceção daquela que no viver não se distorce
também não desfez o sentido do aprender
de que é tudo é teu para construir
um mundo de miragens a girar, girar
e um dia apenas nesse turbilhão a perceber
que uma mão se levanta e cai a cortina
e
por detrás
à olhar
o todo eterno
que transforma tudo daquele passageiro
uma simples lembrança do passado
em um pequeno camafeu