Eu sou o Marcos Vasconcellos. Aqui eu escrevo o que me der na telha, o que me vem na hora de dormir, quando estou num onibus, ou no meio de um papo chato!
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Enquanto seu lobo não vem
pintura de Courbet
levanto correndo
pego uma obra de arte que não deu certo
amasso
soco
rasgo
chuto
grito
e jogo na lixeira
fico desesperado telefono para uma amiga e peço que ela me dê calma
ela então me acalma
descubro que estou atrasado
agradeço
mando um beijo
desligo
me arrumo
corro para o posto de gasolina
tiro dinheiro na máquina de 24 horas
corro
pego um ônibus
penso em alternativas para o trabalho
tiro a carteira
pago o trocador
me sento
e penso
enquanto seu lobo não vem
foto de Pruszkowski
vejo chegar o ponto do metrô
faço sinal
levanto
ando para a dianteira do veículo
me preparo pra descer
o ônibus para
eu salto depressa
corro para o metrô
voo até a bilheteria
pego a fila
sei que continuo atrasado
tiro a carteira do bôlso
compro as passagens de ida e volta
disparo para o acesso
passo pela roleta
desço zunindo pela escada
o metrô para
abre as portas
eu pulo para dentro
ele parte veloz
eu me seguro
penso
enquanto seu lobo não vem
o metrô para
abre as portas
eu sumo na multidão
subo pelas escadas saltando degraus
chego na calçada
ando depressa e atravesso no sinal para o outro lado
pego a transversal
peço informações à um farmacêutico
vou para o endereço correto
entro na loja
peço o que eu quero
o atendente diz que fui orientado errado
eu discuto com ele
ele argumenta de imediato
mas vai lá dentro e pega o produto que eu queria
agradeço e digo que me atrasara muito
vou até o caixa
tiro a a carteira do bôlso
pago
recebo o trôco
pego o embrulho com tudo que eu comprei
acelero pela rua e vou à mais três lojas
vazo até o metrô
passo a roleta
corro para as portas que se abrem
me espremo na multidão em pé
tem um lugar vazio eu chego e sento
penso
enquanto seu lobo não vem
fico nervoso
conto os segundos
o metrô chega
eu passo pela porta
vou para as escadas
subo as escadas
chego em cima
corro para a rua
pego um ônibus que não anda
me desespero e salto
vou andando no maior pique
entro no super mercado
deixo os pacotes na entrada
pego o carrinho
e rolo pelos corredores pegando tudo que eu possa precisar
vou para o caixa
despejo as coisas na frente dela
ela passa tudo pela máquina
pede o cartão de crédito
eu dou o cartão de crédito
vem o papel do recibo amarelo
eu assino
boto tudo na carteira
e reflito se conseguiria diminuir o atraso
pego as sacolas
passo no guarda bolsas
pego as sacolas
avanço para a porta
atravesso
saio batido para casa
chego
bato a porta
tranco
deixo as sacolas no chão
guardo tudo na geladeira
pego uma garrafa de água
derramo água no copo
torno a pôr a garrafa na geladeira
fecho porta dela
levo à boca o copo
bebo todo direto
vou ao banheiro
tiro a roupa
entro no chuveiro
abro a torneira
passo sabão pelo corpo
entro na ducha
me lavo
saio
me enxugo
coloco roupa limpa
vou para o sofá
sento
penso
enquanto seu lobo não vem
pego uma revista de arte
confiro uns artigos
me recosto no travesseiro
meus olhos vão se fechando
o pensamento divaga
eu me acalmo
tudo escurece
uma manhã nasce na floresta
eu ajeito os meus pelos
minha bôca está faminta
meu rabo balança
as garras afiadas
ali está uma casa pequena na clareira
sai fumaça da chaminé
e uma menina se aproxima pela trilha ensombreada
leva uma cesta na mão
ela está alegre
mas eu sou mais rápido
eu pulo pela janela
alguém lá dentro se assusta
eu uivo
a pessoa parece comigo
me olha curiosa e sorri
e me diz satisfeita
tranquila
porque demoraste tanto?
ilustração para O Chapéuzinho Vermelho de Gustave Doré
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