O céu clareou de novo.
Antes foi aquela tempestade
mas não quer dizer que de vez já passou
foi embora, se foi
e o que vem é perpétuo.
Apenas que sim
agora o tempo é azul
nuvens em calma, vento amigo
rosto num espaço tranquilo, receptivo
embora que, quando as gôtas caem
do alto do não sei onde, da fábrica de segredos
fossem como se de lá
se mostrasse um aceno,
ou parentêsis no que é firme, exato
e o céu se materializasse em fluído
a despencar no seu frio afeto, sua vivência.
Imagino que preciso ser um céu
Há uma beleza aí da qual não desisto
porque é como não desistisse de mim mesmo
eu também tenho minhas horas de temporal
ou calmaria, luz, do extraordinário.
Essa abstração
se materializa em mim
a me lavar,
me aponta,
me faz ser
e como desistir de mim?
Penso em ser um céu.
Somos sempre por enquanto
como não sentir o que vem à mim
sobre a pele
sob o fluxo das afluências?
Fatos, momentos, humores que se seguem
desmancho cada sentir
diluindo o que não penso. Sou eu.
E como posso desistir de mim?
mesmo com as precipitações
lugares comuns, clichês?
Sei que preciso ser um céu!
Atmosfera é o ar que trazemos
ou construimos em volta de nós
para nos apresentar o mundo,
para podermos dizer
Olá, sou assim!
Preciso ser um céu,
pois apesar das inconstâncias
virá o sol, virão as aves, passáros, balões
aviões, homens voadores a me atravessar
e olhos a bem dizer clarezas.
E por fim, serei azul
estarei azul, livre, firme, profundo, simples
E poderei dizer que abraço em silêncio, finalmente
o infinito que sei em mim,
através de tanto nada
há a minha alma.
Foto de Yves Klein - famoso artista francês da década de 60
que mudou sua vida quando descobriu a força transformadora
do azul do céu. Fez toda a sua obra em cima desse argumento celeste.