segunda-feira, 17 de maio de 2010

O amanhã




meu corpo é o estranho

é lava derretida

é fundida entranha

fluxo em brasa que escorre e me leva ao que não é mais

pois, o que há, se distancia para sempre da emoção

desta parte, em que o inexplicável ganha

                                                                                                      foto de Pruszkwoski


o não entender não é possível aqui

o perceber-se se ignora, não interessa a trama

não há mais tempo, o futuro talvez seja hoje só fria fumaça

nada mais é e será para sentir

é a razão de gelo que o momento apanha e abraça

                                   cena de Seven Golden Man Out to Conquer the Space  



tudo é capital, impaciência, intolerância de planos

informática, webs, perdas e danos

é o fim da guerra, o já, a glória e a derrota do ser humano

alejado sem mãos, nada faz, só teknica

o que se sente não traz lucros, é por onde a razão se dana, se engana


                                                                                      cena de Metropolis de Fritz Lang


amanhã, o que é sensível será a presa da aranha

como um inútil inseto preso à vertigem da velocidade

à envolvente teia do agora, do imediato, da superfície

desigual e nunca eterna que lhe atrai, por renda imensa

publicidade bem feita e genialmente arquitetada

o chamariz necessário que lhe seduz

a apanha

a chama

à armadilha da besta maquiavélica, que espreita

pronta ao salto fatal, em torpe emboscada

                                                                                                                                foto da aranha mecânica japonesa


a armadilha está pronta, a arapuca está montada

pode ser delicioso prato de hoje pra uma gula inusitada

o aracnídeo ri e comemora, tem fome e a presa distraída, enroscada

                                                                                                  cena de The Mini Man


mas o tempo, sua tola, é rio fervente

que não traz dó, nem piedade

a natureza é uma máquina inclemente que não chora

são as suas chamas, as labaredas

que com prazer e inebriada gula aos dois distraídos e indefesos seres

tanto presa, como predador à que os seus tentáculos arreganha

que ela, por fim, engloba e gulosamente devora

e por fim nada resta

e também o fogo se apaga

e esse é o fim de nossa história