Torpedos infláveis
Eu sou o Marcos Vasconcellos. Aqui eu escrevo o que me der na telha, o que me vem na hora de dormir, quando estou num onibus, ou no meio de um papo chato!
terça-feira, 29 de julho de 2025
O que nunca se imaginou
foto de Parke Harrison
o que me soa à hora primeira
faz de mim não mais esse corpo largado
esse meio que náufrago do silêncio
a ver seu navio
nave rôta
afundar em seu peito encapelado
sob a nuvem do des-sinto
pois não há mais um outro,
o além de mim,
o trânsito do acompanhamento,
pele soando sobre outra pele,
afundando em teu meu
o eu que sempre te apresentei íntegro
entregue
e feliz
Não, agora talvez pressinta
que nada tem de ser assim
a sessão não acabou
posso ouvir que a vida não te tranca numa gaveta
e o mar tem vários humores
mas ainda não chegou aonde estou
então, caminha até lá
tenta
encontra tua nave logo ali
no limite do que se conhece
e sobe à bordo
daí
então
levanta a vela
e parte para o desconhecido
que o novo mundo te aguarda
o mar é imenso
mas, um dia
com certeza ouvirá
Terra à vista!
o paraíso chegou
e você esquecerá as tormentas
sob a selva do que nunca se imaginou
a tua paz
foto de Parke Harrison
O bom pastor
Que arrogância a minha,
a de cobrar posições
de quem quer que seja,
de herói,
de herói,
ou de vanguardista,
de sábio
ou sequer de apenas de estar
na luta!
E pra que serviram
na luta!
E pra que serviram
essas lutas,
empresas, batalhas,
sejam no terreno
do corpo físico
do corpo físico
ou da mente?
Não vencem agora
Não vencem agora
de novo
essas mesmas
"novas mentiras",
nossos
"novos enganos",
"novos enganos",
as mesmas
mesquinharias?
Temos ainda
Temos ainda
em mente,
pelo menos,
os exemplos daqueles
que apenas
com doçura
com doçura
foram sábios ,
ou heróis na vanguarda
das lutas
de sobrevivência,
dentro da guerra
contra a hipocrisia
e a crueldade?
Os verdadeiros místicos
Os verdadeiros místicos
são aqueles que sabem que nunca determinarão
onde termina a razão,
onde termina a razão,
o pensamento,
e se inicia
o Abstrato Intangível,
o que não se explica
o que não se explica
apenas com teorias
e sim
com o enternecimento
e o calor de um olhar,
uma expressão de pasmo
e submissão ao Intangível.
E percebe daí ,
E percebe daí ,
então,
como exercer o perdão,
porque este,
que é o fundamento
que é o fundamento
do grande místico,
é a simples compreensão
de saber falível,
de saber falível,
de se saber
quão pequenos e torpes
podemos ser,
apesar de lutarmos
apesar de lutarmos
pela imagem
de grandes homens,
porque somos
mínimos,
mínimos,
um nada,
que viemos de uma massa
disforme microscópica,
que passou a viver
que passou a viver
e, desde então,
luta por isso
como pode.
E, portanto,
E, portanto,
dessa relação
podemos compreender
nossa frágil qualidade
de seres humanos,
animais que lutam
por condições melhores,
sejam de vida,
sejam de dignidade,
ou pelo que se ama
E, daí, o perdão,
E, daí, o perdão,
pelo entendimento
àquilo que se ama
e nossa insignificância.
Então, quem são
Então, quem são
esses grandes homens
agora?
Esses grandes sábios
Esses grandes sábios
ou cientistas?
Costuramos
Costuramos
o incompreensível
e natural sentido do acaso,
do destino que vem do caos,
à uma razão qualquer,
assim como
meu pai ou meu avô
meu pai ou meu avô
costuravam panos
em sua alfaiataria.
O acaso,
O acaso,
a coincidência,
é uma grande parte
da Razão.
Mas agora
Mas agora
morreu o romantismo,
assassinado
pela Razão,
Só nos surpreende
Só nos surpreende
a tecnologia,
não apenas o techno,
seu uso,
o fazer,
o fazer,
mas sim,
a surpresa da invenção
da técnica à serviço
do capital.
E o capital da generosidade?
E o investimento da verdade?
E os atos que achamos bons por suas consequências?
E a possibilidade
do capital.
E o capital da generosidade?
E o investimento da verdade?
E os atos que achamos bons por suas consequências?
E a possibilidade
do sentimento e do amor?
Dominamos os crimes?
Justificamos os demandos?
Reprimimos a violência?
Os homens deixaram
Dominamos os crimes?
Justificamos os demandos?
Reprimimos a violência?
Os homens deixaram
de explorar os outros homens?
Tudo é relativo
Tudo é relativo
e tudo deve ser considerado.
A razão
A razão
traz um lado maravilhoso,
da praticidade,
da compreensão
de tantos mistérios,
de tantos mistérios,
mas não pode
exterminar o que é humano,
o sensível,
o sensível,
a única coisa que em nós,
seres viventes,
na infância,
foi pastor de cabras,
como tantos sábios
o foram antigamente,
o foram antigamente,
e de lá vieram
com suas pequenas luzes
até seus reinos infinitos.
Mas, apesar de envolvido
Mas, apesar de envolvido
na ignorância,
ou inocência,
pelo desconhecimento,
pelo desconhecimento,
não teria ele sido
mais feliz naquela época?
Não venceu o caminho obscuro
Não venceu o caminho obscuro
até as trilhas na luz do dia?
Não tinham mais esperanças?
Mais sorrisos,
Não tinham mais esperanças?
Mais sorrisos,
apesar dos dias difíceis, duros?
Ou apenas tinha a doçura
Ou apenas tinha a doçura
com que afagava cada ovelha
no seu focinho,
no seu focinho,
enquanto elas mansas
pastavam contentes
o seu capim?
Porém,
Porém,
da rusticidade
e das intempéries,
ele se consolava
de imediato
de imediato
e considerava
como um pagamento autêntico,
quando uma delas
quando uma delas
o olhava,
como que dizendo,
se nos afaga
se nos afaga
é porque é
e a grama macia.
Meu bom pastor,
Meu bom pastor,
o verde que nos aponta
é apenas
o cuidado de tuas mãos
o cuidado de tuas mãos
e o amor,
o calor dos teus braços,
quando às vezes
nos leva no colo.
Nos conduz
Nos conduz
até onde possamos
nos aquietar seguras,
na sombra de brancas nuvens
na sombra de brancas nuvens
e à luz plácida das estrelas.
À cada noite,
À cada noite,
deixa-nos nos aquecer
à volta da sua fogueira,
e nos protege dos lobos,
e nos protege dos lobos,
porque és
o bom pastor.
O amor,
O amor,
o sentimento mais elevado
e humano,
vale mais
vale mais
que a técnica
que o capital impõe.
Porém,
Porém,
talvez seja tarde
para uma reconciliação.
Mas não basta apenas à ti,
seus discursos adocicados
e sentimentais,
e sentimentais,
tuas canções,
que feliz compõe,
para termos a certeza
da sobrevivência
de uns anos a mais
nessa natureza cruel
nessa natureza cruel
e traiçoeira
que a ela própria
reinventa e aprimora,
reinventa e aprimora,
lá na infância o rebanho
se aconchega,
o pastor a reúne
para que não se percam
uma da outra.
Ele olha a mais velha
Ele olha a mais velha
que parece dizer:
não tenha medo
te compreendemos,
te compreendemos,
te obedeceremos.
E só sentirmos
o calor meigo dos teus dedos,
para sabermos de ti,
que o caminho
pode ser de pedras rudes,
mas traz a certeza
mas traz a certeza
de que há um dia
um pasto mais verde adiante.
Durma tranquilo,
Durma tranquilo,
que nós te vigiamos,
e o que necessitas
e o até o que não necessitas
e o até o que não necessitas
nós lhe daremos.
O bom pastor
O bom pastor
é aquele a quem o rebanho
cerca por livre
e espontânea vontade.
e espontânea vontade.
É aquele
que nos deixa livres
e felizes
e, no entanto,
nos protege com coragem,
nos aquece no inverno,
nos aquece no inverno,
acende a sua fogueira,
e nos aponta o horizonte
e nos aponta o horizonte
com a vida tranquila.
Dorme, meu menino
Dorme, meu menino
e usa nossa lã macia.
Aconchega tua cabeça
Aconchega tua cabeça
e descansa em paz,
porque,
porque,
acima de você,
a sua luz está a brilhar
e a noite
e a noite
é como nossa lã,
teu abrigo entre os céus.
MUNDOS
O amor
é um idioma
que só
um sexto sentido escuta
quando é falado
pois é a língua corrente
de um mundo
pois é a língua corrente
de um mundo
que sonha outro mundo
que o escuta
sem saber
que o mundo que quer
já está ali escondido
já está ali escondido
ao seu lado!
Descobertas
o horizonte existe
não duvide
dentro do que a gente vê e não alcança
por detrás dos olhos
dentro deles
o horizonte mora quieto
é belo
e parece inalcançável
é como o silêncio de uma festa
até que explode
como um foguete de artifícios
ou um beijo do inesperado
é como um pardal que voa e voa
e procura entender do que é feito o azul
e escapa de tudo que não é azul
ou que não é ainda azul
hoje
o horizonte de mim
é como um pardal que voa e voa
e procura entender do que é feito o azul
e escapa de tudo que não é azul
ou que não é ainda azul
hoje
o horizonte de mim
surgiu à minha vista
vasto e veloz
unificador
uma nuvem ou linha mágica
me traçando um fim
um limite infinito a derivar
sem nenhum plano para navegação até ele
mostrou apenas uma rota para o mistério
arriscando a longínqua hipotenusa
querendo imposição de uma descoberta
além do que parco imagino
antes guiava
doidas barcas apocalípticas
negava qualquer meta perdida
como hoje, meu querer, meu afeto
o impossível, o invisível
ou o corpo do outro a se entregar
por isso
desbravei também oceanos em fúria
até a terra descoberta
aventura
o país da selva oculta em cada um
e à cidade perdida
que alcancei em segredo
e me descobri
desenterrando um deus que não era de pedra
mas vivo
mas antes
coletei esperanças
fui destemido
e me lancei
contudo, a sorte então
me surgiu em surto
me arrancou
me jogou
me bateu
vasto e veloz
unificador
uma nuvem ou linha mágica
me traçando um fim
um limite infinito a derivar
sem nenhum plano para navegação até ele
mostrou apenas uma rota para o mistério
arriscando a longínqua hipotenusa
querendo imposição de uma descoberta
além do que parco imagino
antes guiava
doidas barcas apocalípticas
negava qualquer meta perdida
como hoje, meu querer, meu afeto
o impossível, o invisível
ou o corpo do outro a se entregar
por isso
desbravei também oceanos em fúria
até a terra descoberta
aventura
o país da selva oculta em cada um
e à cidade perdida
que alcancei em segredo
e me descobri
desenterrando um deus que não era de pedra
mas vivo
mas antes
coletei esperanças
fui destemido
e me lancei
contudo, a sorte então
me surgiu em surto
me arrancou
me jogou
me bateu
como a borrasca maltrata
e lança naus
e lança naus
como um salvavidas
sobrevivi ao naufrágio
e venci
fui até a praia respirando
como a vida que há lá
ao longe
no horizonte perdido
aquele
sobrevivi ao naufrágio
e venci
fui até a praia respirando
como a vida que há lá
ao longe
no horizonte perdido
aquele
que lhe fixa os olhos
doce afago
trêmula aflição
e me misturei
me integrei
me afoguei
em desejos refeitos
mar de carne antes do repouso
terminara enfim
doce afago
trêmula aflição
e me misturei
me integrei
me afoguei
em desejos refeitos
mar de carne antes do repouso
terminara enfim
todo confronto
como quando imaginei
como quando imaginei
que ainda não chegaria
à terra
sem horizontes
porém,
sem horizontes
porém,
graças à Deus
entendi que não!
A gente sempre
entendi que não!
A gente sempre
se engana!
Mas,
Mas,
naquele momento,
ao contrário,
já estava em meu ponto
ao contrário,
já estava em meu ponto
de encontro
a descoberta daquele paraíso
a descoberta daquele paraíso
que é só meu
que está ali
ou aqui
peito aberto
até onde
que está ali
ou aqui
peito aberto
até onde
o que se realizará
acena feliz por sua presença
sem frestas
sem medo
e à frente apenas estamos nós
unindo-se ao secreto derradeiro
o objetivo de uma vida
em ajuste
deixando impérios desconhecidos
a conquistar suas lutas ou destemperos
o horizonte de mim
essa união a ti
não passiva
pois agimos, arrojamos e conseguimos
pois, toda vitória
casa com o horizonte
tange nossos fluxos
e ali se une
te abraço
sinjo fundo o que posso
e pleno da tua aliança
e o continente agreste emerge
por trás dos corais e recifes
salvação
nossa nau de união foi nosso olhar
nosso porto, teu leito
nossa ilha, todo fogo
é o dessonho sonhado
porque é real
e até a íngreme montanha escalamos
e o longe agora perto uniu-se
num íntimo cume
o horizonte é onde para sempre estaremos
o horizonte em nós
o horizonte que são seus olhos
meu pardal
meu vôo
e juntos entendemos de que cor é feito o azul
e porque o azul será sempre
o azul
acena feliz por sua presença
sem frestas
sem medo
e à frente apenas estamos nós
unindo-se ao secreto derradeiro
o objetivo de uma vida
em ajuste
deixando impérios desconhecidos
a conquistar suas lutas ou destemperos
o horizonte de mim
essa união a ti
não passiva
pois agimos, arrojamos e conseguimos
pois, toda vitória
casa com o horizonte
tange nossos fluxos
e ali se une
te abraço
sinjo fundo o que posso
e pleno da tua aliança
e o continente agreste emerge
por trás dos corais e recifes
salvação
nossa nau de união foi nosso olhar
nosso porto, teu leito
nossa ilha, todo fogo
é o dessonho sonhado
porque é real
e até a íngreme montanha escalamos
e o longe agora perto uniu-se
num íntimo cume
o horizonte é onde para sempre estaremos
o horizonte em nós
o horizonte que são seus olhos
meu pardal
meu vôo
e juntos entendemos de que cor é feito o azul
e porque o azul será sempre
o azul
olhos fugitivos
súbito levantar
e a noite me escapa
a consciência turva sob o lençol
lenta do tempo inconsciente
algo que me angustia
me chama ao quarto apagado
agora deserto sem areias
agora espaço preso no escuro sem ventos
marcha sem passos, sem scirocco ou sem simun
entre o que se passou e o que não foi acabado
corrida sem aventuras
dormência na vertigem da alma
será esse momento como a caravana a vagar entre as dunas dos meus mistérios?
será que dá voltas sem ver a cidade ao longe
ou algum oásis, que nos descanse do que vai acontecer?
será melhor, então, me agarrar as lembranças
ou imaginar logo o que, com o amanhã despontando, devo fazer?
foto de Weston
ou será que é melhor me despojar de tudo
e inventar um novo despertar, um novo diálogo
esquecer os dias passados, tormentos e agruras
e sorrir para o feliz futuro que desejo que aconteça?
será esse amanhã a manhã do último dia?
a inescrutável questão de todo os dias
e todas as noites
e todas as horas
e todos os segundos
e do justo agora?
na verdade, tudo me apavora
não sou um super herói que a platéia adora
antes parvo observador das horas
temeroso aventureiro do acontecer
que pelo andar da carruagem
estacionou-se em contemplar o precipício
que despenca para dentro de sua mente
e divorcia do amor que tem pelo dia
e se amazia com o ávido prazer
que a atmosfera em breu lhe tem a oferecer
sabe-se impotente para os minutos
que escorrem pelos dedos
lhe cegam
lhe entopem
lhe afogam na areia do deserto
gigantesca ampulheta
que nenhum caminho evita por desvios
para que veja o mundo se esquecer
melhor me fazem os olhos
que não mais procuram um qualquer futuro
o que ainda não se pode prever
e descem a cortina do distanciar
do sobressalto de tanto murmúrio e incógnitas
desligam a luz do cômodo
e tudo se apaga
e deixam o sono me conhecer
e sonho
Boa noite!
O monstro
esse monstro medonho
agora me ataca
eu frágil
eu risonho
eu temeroso
eu só coragem
eu despreparado
eu pronto agora
eu perdido de aqui estar, me atraco contra sua fúria e seguro sua pata
e lhe aplico todos os golpes que sei
urro
xingo
grito
esmurro
bato
passo rasteira
torço seu braço
chuto seu corpo
me amaldiçoo por não ser um herói de um blockbuster milionário
e continuo o embate sangrento
evitando seus dentes amarelos, gosmentos e carniceiros
tremendo pelo esforço de com a tremenda besta lutar
esse monstro medonho agora me ataca
rolamos pela lama, rocha e terra, sangue e lama, sujo e cansado nesse esforço
eu embolado
eu prisioneiro em luta, talvez com um fruto da minha imaginação que algum remorso encerra e agora liberta para se vingar
mas que não tem dó
e piedade foi um sentimento que nunca conheceu
e que também não aceito enquanto viver e puder brigar
cena de Vinte mil léguas submarinas
esse monstro medonho agora me ataca
vil, violento, impiedoso embate que nunca compreendi
como ainda nada compreendo até hoje
como vencer
como suportar o que sei, o que vi, incógnita surpresa
esse gigante em espirais surge, ruge e golpeia como Bruce Lee
esse monstro agora me ataca
e agora sei que dele também faço parte, todos já esperavam isso em mim
afinal, assim se delineia o sucesso, essa é a vitória - ser Arte
existir é assim, como ser um Artista que se abstrai pelo amor, para além do comum e da hecatombe
e apesar de sofrer, a rodopiar em um grotesco motor, que é o Todo
o sentir nosso - o Dele
onde vou do onde vamos, onde estou...
somos todos um só
dentro Dele estamos
até que não nos consideremos separados
não há nada à parte
mas tudo mudou
todos somos monstros
todos somos anjos
todos somos esse Ser puro que amamos
penso
e sinto
não há mais fera
e tudo em mim levitou
eu frágil
eu risonho
eu temeroso
eu só coragem
eu despreparado
eu pronto agora
eu perdido de aqui estar, me atraco contra sua fúria e seguro sua pata
e lhe aplico todos os golpes que sei
urro
xingo
grito
esmurro
bato
passo rasteira
torço seu braço
chuto seu corpo
me amaldiçoo por não ser um herói de um blockbuster milionário
e continuo o embate sangrento
evitando seus dentes amarelos, gosmentos e carniceiros
tremendo pelo esforço de com a tremenda besta lutar
esse monstro medonho agora me ataca
rolamos pela lama, rocha e terra, sangue e lama, sujo e cansado nesse esforço
eu embolado
eu prisioneiro em luta, talvez com um fruto da minha imaginação que algum remorso encerra e agora liberta para se vingar
mas que não tem dó
e piedade foi um sentimento que nunca conheceu
e que também não aceito enquanto viver e puder brigar
cena de Vinte mil léguas submarinas
esse monstro medonho agora me ataca
vil, violento, impiedoso embate que nunca compreendi
como ainda nada compreendo até hoje
como vencer
como suportar o que sei, o que vi, incógnita surpresa
esse gigante em espirais surge, ruge e golpeia como Bruce Lee
esse monstro agora me ataca
e agora sei que dele também faço parte, todos já esperavam isso em mim
afinal, assim se delineia o sucesso, essa é a vitória - ser Arte
existir é assim, como ser um Artista que se abstrai pelo amor, para além do comum e da hecatombe
e apesar de sofrer, a rodopiar em um grotesco motor, que é o Todo
o sentir nosso - o Dele
onde vou do onde vamos, onde estou...
somos todos um só
dentro Dele estamos
até que não nos consideremos separados
não há nada à parte
mas tudo mudou
todos somos monstros
todos somos anjos
todos somos esse Ser puro que amamos
penso
e sinto
não há mais fera
e tudo em mim levitou
As muralhas e as serras brancas
Constrói-se muros. São de pedra, cimento e argamassa. Outros são de granito, magmas impenetráveis ao olhar. Muros e mais muros. Tantos muros a não deixar uma fresta, restos de imagem, uma aragem, um sopro, movimento. Calafetam-se, erigem-se aqui e ali. Outros fragmentam-se. Caliça e ciscos, parede de olho. Isso quando os podemos ver - nem todos protegem a China. Outros são só ruína.
Há os de massa óssea, carne e pele e neurônios, massa de uma farinha que não se percebe, acostuma-se. São pedras que deixamos por acaso, enquanto andamos de janela em janela, a desviar do assunto dos muros. E eles vão crescendo por dentro, separando os sentimentos - um quarto para a aflição, uma sala para a dor - que tranco e esqueço, um quarto para o prazer - que à toda hora eu volto, um quarto de portas abertas para o querer, um mal iluminado e confuso para a ilusão, um compartimento para cada coisa que já sentimos.
Mas as alegrias não. Elas se espalham no jardim, espaço aberto, gritam pela casa, riem, brincam, e outras até correm por dentro de mim. Fartam-se em piqueniques na grama, molham as saias no capim da manhã. E, à frente, ficam as muralhas das serras brancas.
- Que serras brancas se não há montanhas com neve por aqui? pergunto encimesmado.
Será porque no íntimo todo frio é abstrato? E lá ? Quem fica lá, se gela os pés, se resfria a coluna, adormece a pele, tudo se endurece? continuo abestado.
- É simples, respondo à mim mesmo. Lá mora o pavor, o medo absoluto. Então se tem medo e se o medo é o mais frio, é então o melhor construtor. Sua alvenaria é mais sólida e branca, firme cantaria, tudo feito de gelo mais duro - o da tristeza. Os operários não dormem porque gelam de pavor, tremem, sacolejam as carnes e assim fazem crescer as mais altas muralhas, para lhes compensar o tremor, e também como defesa da vergonha de ter medo, que traz consigo todas outras vergonhas.
Os muros são humanos e são a cara do medo. E são tantas voltas emparedadas quantos pensamentos que nascem.
As alegrias não, dissolvem o gelo das serras brancas, conhecem as portas, as aldravas, abrem todas e sobre as portas colocam aquelas placas de wellcome, benvindo, e as espalham por todas as casas muradas das serras brancas e enquanto perguntam se por ali é perto do Polo Norte, se alguém pode emprestar um trenó.
Lá nas serras brancas há uma cidade. Essa cidade é de paredes brancas, mas as casas não tem tetos, os habitantes podem crescer cercados, caramujos de si, a ter medo.As muralhas vão crescendo levando a cidade junto, até o fim da estratosfera. Tão alto, que então os moradores percebem que também são como habitantes da Lua. Aluecem na gravidade zero e voam para o infinito. E, de repente, lá do alto percebem como são pequeninos, quase nada, como as serras brancas.
As alegrias não, sempre o souberam. Não conhecem os muros brancos pintados de cal, nem os brancos porque se cobrem de neve e gelo. Sabem até que as serras nunca existiram, nós as construimos mentalmente. No íntimo, toda essa arquitetura é invisível, todas são limites da imaginação.
As alegrias não, não tem limites. Brilham nos olhos e saltam aos céus. Flutuam. Estão por toda parte!Veja! Lá vai uma!
foto de Albert Lamorisse
A vidente
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uma vidente me revelou que a minha vida acabara
que terminou
mas só porque eu estava aqui
agora
onde eu piso
onde estou
porque ela
( a minha vida )
não vivia aqui comigo
porque rolava lá ..............................bem lá longe
e não por onde eu sempre sigo
porém
se não for aqui
em que lugar seria
se não é onde estou?

não adianta imaginar
as infinitas maneiras
de aqui não estar
mas a minha vida vivendo
a minha vida acontecendo
à parte
em algum outro lugar
em qualquer outro lugar
ou aqui
ou ali
lá
ou acolá
ou até na Conchinchina
talvez em além mar
ou no Turquistão
não sei

aí pelo ar
disse ela
vendo o meu futuro
abanado as mãos e dispersando dúvidas
espera
que um dia vai chegar até ......lá
no mesmo lugar
aonde você vai encontrar
o seu destino
nem que você não queira esse tal destino
desenho - Bola de Cristal - Escher

essa é a pergunta
como chegar onde não sei que se está?
e se isso é verdade
além de me fritar os ossos
me deixa cego
surdo
e mudo
e catatônico
porque me fez aparvalhado
e não sou idiota
porque devo ter errado em algum lugar
no presente
ou no passado
ou até ontem
ou agora
e posso deixar de estar na minha vida
por ter pego o caminho trocado
ou ter esquecido
ou passado do ponto, distraído
e acabei num mundo do equívoco
onde nada é pra mim
e está tudo errado!
foto de Mc Cartney
o que mudou minha vida inteira?
como iria eu
não querer viver
a minha própria vida
se dela dependo
para poder viver......... a vida certa?
e que agora está perdida
não sei onde!
em algum lugar .........na minha esteira
posso estar vivendo a vida de alguém que nem conheço
ou a sua que lhe quero bem
ou a do porteiro quando faz a faxina
ou a do motorista daquele fiat sujo e arranhado
ou a de um bandido que agora esteja preso sendo interrogado
ou a de um mestre cuca a lhe servir um prato fino
ou um milionário infeliz, velho, desbocado e feio
ou o garanhão que se faz parecer tímido, depois avançado
ou a de um astronauta devastado
por sua insignificância no espaço
ou aquela mulher de bíquini
ou até mesmo ser aquela mosquinha ali andando na poltrona
ou uma bactéria que caiu dela

uma vidente me revelou que a minha vida acabara
que terminou
mas só porque eu estava aqui
agora
onde eu piso
onde estou
porque ela
( a minha vida )
não vivia aqui comigo
porque rolava lá ..............................bem lá longe
e não por onde eu sempre sigo
porém
se não for aqui
em que lugar seria
se não é onde estou?

não adianta imaginar
as infinitas maneiras
de aqui não estar
mas a minha vida vivendo
a minha vida acontecendo
à parte
em algum outro lugar
em qualquer outro lugar
ou aqui
ou ali
lá
ou acolá
ou até na Conchinchina
talvez em além mar
ou no Turquistão
não sei

aí pelo ar
disse ela
vendo o meu futuro
abanado as mãos e dispersando dúvidas
espera
que um dia vai chegar até ......lá
no mesmo lugar
aonde você vai encontrar
o seu destino
nem que você não queira esse tal destino
desenho - Bola de Cristal - Escher

essa é a pergunta
como chegar onde não sei que se está?
e se isso é verdade
além de me fritar os ossos
me deixa cego
surdo
e mudo
e catatônico
porque me fez aparvalhado
e não sou idiota
porque devo ter errado em algum lugar
no presente
ou no passado
ou até ontem
ou agora
e posso deixar de estar na minha vida
por ter pego o caminho trocado
ou ter esquecido
ou passado do ponto, distraído
e acabei num mundo do equívoco
onde nada é pra mim
e está tudo errado!

o que mudou minha vida inteira?
como iria eu
não querer viver
a minha própria vida
se dela dependo
para poder viver......... a vida certa?
e que agora está perdida
não sei onde!
em algum lugar .........na minha esteira
posso estar vivendo a vida de alguém que nem conheço
ou a sua que lhe quero bem
ou a do porteiro quando faz a faxina
ou a do motorista daquele fiat sujo e arranhado
ou a de um bandido que agora esteja preso sendo interrogado
ou a de um mestre cuca a lhe servir um prato fino
ou um milionário infeliz, velho, desbocado e feio
ou o garanhão que se faz parecer tímido, depois avançado
ou a de um astronauta devastado
por sua insignificância no espaço
ou aquela mulher de bíquini
ou até mesmo ser aquela mosquinha ali andando na poltrona
ou uma bactéria que caiu dela
e sumiu no que nunca vi

mas como posso viver a minha vida?
ou como encontrar a que ainda é minha
se ela me estiver esperando até agora
por falta do seu herói atrapalhado?

chego à uma conclusão
dessa situação surrealista
e solucionarei como posso
da seguinte e sensata maneira:
porque me preocupar de antemão
com o que não chegou à vista?
se há alguma verdade
ou não
virão com elas os meios
pra que ela exista

vida certa e errada
não existe
por mera antecipação
o que vier
será luta
para que a conquiste
e realizá-la
como a descoberta de um estranho e selvagem país
foto de Henry Cartier Bresson

ou a invenção mirabolante do aeroplano
que depois virou avião
que depois virou foguete
que depois virou satélite
que foi abduzido por um disco voador
numa canção baiana
que fez muito sucesso
cada um
tem diante de si
à si próprio
em cada momento
em cada segundo
em cada gesto
em cada ação
torturante ou não
inebriante ou não
inteligente ou não
correta ou não
egoísta ou não
a exclusiva responsabilidade
por aquilo que escolhe
ou que se deixa escolher
se sai do emprego onde te tratam feito coisa
e lhe pagam mal
se enforca o feriado
ou quem não lhe paga o aluguel por malandragem
se sorri quando não obtém um elogio verdadeiro
ou desmascara a falsidade
se pega um ônibus lotado ou um táxi caro e amarelo
se sai do armário e assume a dignidade do que é
ou se continua um covarde
se vai ao supermercado ou rola na cama mais um pouco
todo mundo tem que ser aquilo que é
doa o que doer
ou não
sei que há momentos
em que é impossível alternativas
e
à essas
só há uma decisão
lúcida e imaginativa
que não há decisões
apenas saber
como tirar uma lição
ou descobrir um viés positivo
depois subir ao palco
para revelar seu personagem
desvendar a trama
e entregar o vilão
mostrar em tudo a poesia
e quando a cortina desce
que se espere
aplausos
e por nossa parte
a compreensão
e a moral da história
se tiver
e que talvez
só a nós mesmo
interesse
se uma vaca vai pro brejo
ou vai pro pasto verde
tem que se saber
de quem é o mérito
quem ou o quê
a fez chegar lá
o pastor deve ser
o culpado ou o herói?
a estrada está errada
ou é atalho?
e o brejo pode ser
raso e cálido
e o pasto
a entrada do curral
prévio ao seu pronto retalho
quem pode garantir qualquer coisa?
quem pode prever com certeza o que vem?
quem pode dizer que essa vida que você vive
é a sua vida certa
a premeditada
a que está no seu programa?
ou se a verdadeira era estar numa caravana em Nínive?
ou amarrado no trilho de um trem?
afinal
vamos em frente
a viver todo esse delírio que
convenhamos
é muito além do que se pensa
talvez seja
para apenas se saber
aonde
entramos na contramão
ou
se isso
agora
não faz mais
nenhuma diferença
que tudo é besteira
e que a vidente devia é vender mesmo
abacaxi
na feira

mas como posso viver a minha vida?
ou como encontrar a que ainda é minha
se ela me estiver esperando até agora
por falta do seu herói atrapalhado?

chego à uma conclusão
dessa situação surrealista
e solucionarei como posso
da seguinte e sensata maneira:
porque me preocupar de antemão
com o que não chegou à vista?
se há alguma verdade
ou não
virão com elas os meios
pra que ela exista

vida certa e errada
não existe
por mera antecipação
o que vier
será luta
para que a conquiste
e realizá-la
como a descoberta de um estranho e selvagem país
foto de Henry Cartier Bresson

ou a invenção mirabolante do aeroplano
que depois virou avião
que depois virou foguete
que depois virou satélite
que foi abduzido por um disco voador
numa canção baiana
que fez muito sucesso
cada um
tem diante de si
à si próprio
em cada momento
em cada segundo
em cada gesto
em cada ação
torturante ou não
inebriante ou não
inteligente ou não
correta ou não
egoísta ou não
a exclusiva responsabilidade
por aquilo que escolhe
ou que se deixa escolher
se sai do emprego onde te tratam feito coisa
e lhe pagam mal
se enforca o feriado
ou quem não lhe paga o aluguel por malandragem
se sorri quando não obtém um elogio verdadeiro
ou desmascara a falsidade
se pega um ônibus lotado ou um táxi caro e amarelo
se sai do armário e assume a dignidade do que é
ou se continua um covarde
se vai ao supermercado ou rola na cama mais um pouco
todo mundo tem que ser aquilo que é
doa o que doer
ou não
sei que há momentos
em que é impossível alternativas
e
à essas
só há uma decisão
lúcida e imaginativa
que não há decisões
apenas saber
como tirar uma lição
ou descobrir um viés positivo
depois subir ao palco
para revelar seu personagem
desvendar a trama
e entregar o vilão
mostrar em tudo a poesia
e quando a cortina desce
que se espere
aplausos
e por nossa parte
a compreensão
e a moral da história
se tiver
e que talvez
só a nós mesmo
interesse
se uma vaca vai pro brejo
ou vai pro pasto verde
tem que se saber
de quem é o mérito
quem ou o quê
a fez chegar lá
o pastor deve ser
o culpado ou o herói?
a estrada está errada
ou é atalho?
e o brejo pode ser
raso e cálido
e o pasto
a entrada do curral
prévio ao seu pronto retalho
quem pode garantir qualquer coisa?
quem pode prever com certeza o que vem?
quem pode dizer que essa vida que você vive
é a sua vida certa
a premeditada
a que está no seu programa?
ou se a verdadeira era estar numa caravana em Nínive?
ou amarrado no trilho de um trem?
afinal
vamos em frente
a viver todo esse delírio que
convenhamos
é muito além do que se pensa
talvez seja
para apenas se saber
aonde
entramos na contramão
ou
se isso
agora
não faz mais
nenhuma diferença
que tudo é besteira
e que a vidente devia é vender mesmo
abacaxi
na feira
O velho e o lago
as calçadas não tem ninguém
se há sons
feitos lá fora
devem ser
devem ser
cães
que ladram
pra quem não vem
que ladram
pra quem não vem
foto de Hewitt Garret
nessa hora
pra que meus olhos
se fechem
não há anjos
que esperem
nem fadas
nesta história
se problemas
viessem então
teria que os trancar
na memória
aquietar-se
toda noite
é como um lago descoberto
peixes nadam por dentro
o vento sopra
por perto
porém é necessário
se na margem o sossego
é precário
eu
me conheço tanto
como à esse lago
um velho pescador
posso não chegar aonde vou
a mente é um barco genioso
pois tem vontade própria
é o mistério da vida
e nunca saberemos exatamente
como num gozo
se foi nosso comando
que lá
Adormecendo
A
DOR
DORME
MAS SE DÁ
ADORMECIDA
JE SUIS SI DOWN
NÃO
SE
DÁ A DOR
DORME SIM
ADORMECIDA
ME EXCITA
CITA
O
SIM
E
ME
CEDA
DORME TÁ
BEM CEDO
QUE O MEDO
MORRE
TÁ
AÍ
VAI
DORME
O FIM DA
DOR ENORME
NA MANHÃ AÍ
LUZ MORNA
MORRE DOR
MORRE
TÁ
E
SE DO
AMOR MORRER
AMOR CEDA DOR
DOR DORME DORME DOR
A BELA ADORMECIDA DORME
ADORMECE ADORMECE ADORMECE
MERECIDA SE DOMINA A DOR SAI SE DORME
E SE DÁ A DOR SE DÁ A SEDA E DOR A DOR SE
TROCA TROCA TROCA TROCA TROCA TROCA
AMOR
AMOR
AMOR
AMOR
Queda dágua
Sofro em mim
lá tão profundo
de ver o acontecer de mãos atadas
que agora desisto do que nela se inclue
do que surge
em termos de acreditar não ser nada
que não está acontecendo
me iludir,
me enganar radicalmente
Me recuso a ser
como um prisioneiro,
Me recuso a ser
como um prisioneiro,
ou guarda de cela
à essa obrigação imposta
à essas grades
ao que me obriga
a ver sempre
essa mesma paisagem.
Também não quero
adotar um vício enganador
para que a festa continue da noite
à essa obrigação imposta
à essas grades
ao que me obriga
a ver sempre
essa mesma paisagem.
Também não quero
adotar um vício enganador
para que a festa continue da noite
até o dia que me aprouver
com pessoas que não existem
a surgir iluminadas
com pessoas que não existem
a surgir iluminadas
por luzes ilusórias
à luz de vela
ou à luz
à luz de vela
ou à luz
do que eu possa imaginar
Quero que eu construa um real
quase real
entretanto sem a dor
de não poder atravessar
o que é escuro
num vôo até as janelas abertas
para o dia claro
Canalizar esse sentir
tão caudaloso
que me faz desaparecer
quando mal
a noite chega à beira
na escuridão
quando essa substância
não me deixa ver
que é uma corredeira
e que nela habitamos
sem a conhecer
embrulhados
rolando por dentro dela
a vida inteira
se transformando
numa gigantesca queda'água
incontrolável
que chamamos
de inconformismo
e que inunda
a cidade
Quero que eu construa um real
quase real
entretanto sem a dor
de não poder atravessar
o que é escuro
num vôo até as janelas abertas
para o dia claro
Canalizar esse sentir
tão caudaloso
que me faz desaparecer
quando mal
a noite chega à beira
na escuridão
quando essa substância
não me deixa ver
que é uma corredeira
e que nela habitamos
sem a conhecer
embrulhados
rolando por dentro dela
a vida inteira
se transformando
numa gigantesca queda'água
incontrolável
que chamamos
de inconformismo
e que inunda
a cidade
dos sensíveis!
foto de John Pfah
Sofrer é
no entanto
como de mim venho a saber
- se à mim ou ao não ser
pertenço
quer queira
ou não queira.
Porém
não há de tornar-se perpétuo
porque nada mais é eterno
ainda mais, tão cruel se revela
que não é o que eu quero
acordado
e nem dormindo
nem lúcido
nem alucinando
me perpetuando
a me vitimizar sob esse teto
inundado por tal fluência poderosa
a impiedosa produção da natureza
foto de John Pfah
Contudo,
dessa revolta contra
o que não dou conta
me conscientizo
que toda queda d'água traz a força
que produz energia
e que justo desse manancial
o potencial se produz e revela
o que dali trabalha, cria
para que surja algo novo
e reconfortante
algo que avise
a quem lhe encontre
de como supera-la
como encontrar um barco corajoso
e indomável que a atravesse
ou a ponte imaginária suspensa
sobre o que sabemos
que existe e não domamos
por enquanto
pois sei que amanhã tudo muda
- como será com ela -
a primavera não inverno
rio manso e límpido
colorido ou aquarela
onde todos se divertem e nadam
Aí corro e me jogo n'água
arranjo um barco
e velejo sem rumo
e, quando dele eu sair
eu pinto outra tela
foto de John Pfah
Sofrer é
no entanto
como de mim venho a saber
- se à mim ou ao não ser
pertenço
quer queira
ou não queira.
Porém
não há de tornar-se perpétuo
porque nada mais é eterno
ainda mais, tão cruel se revela
que não é o que eu quero
acordado
e nem dormindo
nem lúcido
nem alucinando
me perpetuando
a me vitimizar sob esse teto
inundado por tal fluência poderosa
a impiedosa produção da natureza
foto de John Pfah
Contudo,
dessa revolta contra
o que não dou conta
me conscientizo
que toda queda d'água traz a força
que produz energia
e que justo desse manancial
o potencial se produz e revela
o que dali trabalha, cria
para que surja algo novo
e reconfortante
algo que avise
a quem lhe encontre
de como supera-la
como encontrar um barco corajoso
e indomável que a atravesse
ou a ponte imaginária suspensa
sobre o que sabemos
que existe e não domamos
por enquanto
pois sei que amanhã tudo muda
- como será com ela -
a primavera não inverno
rio manso e límpido
colorido ou aquarela
onde todos se divertem e nadam
Aí corro e me jogo n'água
arranjo um barco
e velejo sem rumo
e, quando dele eu sair
eu pinto outra tela
Cores
foto de Thomas Ruff
Cores
Agora só penso com cor
cor de cor que foge
Agora só penso com cor
cor de cor que foge
quando se encontra sem cor
cor de céu imenso
cor amarela de quando
cor de céu imenso
cor amarela de quando
o dia de aniversário é amanhã
cor de um sonho esquecido
cor das flores que caem
cor de um sonho esquecido
cor das flores que caem
quando você chega
cor invisível porém palpável
cor indigesta mas tratável
cor invisível porém palpável
cor indigesta mas tratável
com chás e boas noites
cor do mar quando se chama
cor do mar quando se chama
uma sereia
cor do caminhão desabotinado
cor do caminhão desabotinado
pelas estradas
do não-sei-onde-vai-dar
cor avarenta sendo passada pra trás
cor dos seus olhos
cor avarenta sendo passada pra trás
cor dos seus olhos
quando vêem um quadro meu
cor do lugar que é belo como você
cor da selva, da selva, da selva
cor de ninguém daqui
mas de alguém
cor do lugar que é belo como você
cor da selva, da selva, da selva
cor de ninguém daqui
mas de alguém
a carregar água atrás das serras
e vê um pingo cair à cada passo
e cor do breu se dissipando
e vê um pingo cair à cada passo
e cor do breu se dissipando
atrás da porta que fechei
porque descobri que é o amor
porque descobri que é o amor
que colore tudo
e porque tudo fica tão colorido
quando penso
em você!
e porque tudo fica tão colorido
quando penso
em você!
A imensidão e o poeta
Foto - Ralph Graef
Estou olhando
para o meu umbigo
e não vejo nada
e não vejo nada
do que queria ver
estou olhando
estou olhando
para o meu umbigo
e as ruas não clarearam
e as ruas não clarearam
e nenhum poeta apareceu
pena,
pena,
porque queria entender
mais de mim
queria ver um azul
queria ver um azul
que sei dentro de mim
e que só ele sabe
o poeta
pois,
e que só ele sabe
o poeta
pois,
o poeta
é que é um sábio
por entender de imensidão
por entender de imensidão
mas que
só vê claro
o que é impossivel,
o que se esconde
o que se esconde
numa noite imaginária
de nossa precária lucidez
que não entende nada,
nada.
E eu,
de nossa precária lucidez
que não entende nada,
nada.
E eu,
tão simples
e tão comum,
sou possível
deixo a luz passar
deixo a luz passar
através de mim,
e jogo a rede
e jogo a rede
de pescar maravilhas
para tudo além
para tudo além
de meu próprio
e tolo umbigo.
quem sabe
quem sabe
não consigo
pescar a metáfora
ou idiossincrasia
ou idiossincrasia
que resolva
toda solidão?
É,
amanhã é outro dia
e a vida é mesmo imensa
imensa!
e a vida é mesmo imensa
imensa!
Dorme em mim o que sonho
foto de Ralph Gibson
Dorme em mim o que sonho
dorme em mim o que se perdeu
vaga à noite de tantos cielos
e à cada um
Dorme em mim o que sonho
dorme em mim o que se perdeu
vaga à noite de tantos cielos
e à cada um
uma luz se prometeu
E, agora que abro os olhos,
não enxergo o que vi dormindo
minha cabeça procura um nexo
que ao dormir surgiu sorrindo
E, agora que abro os olhos,
não enxergo o que vi dormindo
minha cabeça procura um nexo
que ao dormir surgiu sorrindo
sorriso de saber o que não existe
enquanto me vejo aqui existindo.
Toda vida me perdi nesta busca
do que não existe a não ser dormindo
se valeu tanta briga, tanta luta
só saberei no escapar das horas findo
talvez mesmo só exista eu nesta gruta
do mundo desperto mera sombra seja
desfeito o sono em mim
enquanto me vejo aqui existindo.
Toda vida me perdi nesta busca
do que não existe a não ser dormindo
se valeu tanta briga, tanta luta
só saberei no escapar das horas findo
talvez mesmo só exista eu nesta gruta
do mundo desperto mera sombra seja
desfeito o sono em mim
aflita imagem exulta
o infinito espanto que a claridade reja
Assim, prefiro a fuga
de não ver o que não pressinto
invento solto no céu sem lua
sou feliz se assim sinto
criando o gozo que dentro de mim atua
durmo e assim descortino o ponto
durmo, a vida é aqui feliz e perfeito encontro
do que almejo com a realidade nua
o infinito espanto que a claridade reja
Assim, prefiro a fuga
de não ver o que não pressinto
invento solto no céu sem lua
sou feliz se assim sinto
criando o gozo que dentro de mim atua
durmo e assim descortino o ponto
durmo, a vida é aqui feliz e perfeito encontro
do que almejo com a realidade nua
Delirio
foto de Andre Kertesz
Como ser tamanha quimera
se nem sei como que fui o que fui
se afasta de mim ser aqui na vera
o que foi de mim que não flui
E assim parte a ser tal assombro
da divisão dos caminhos seguidos
não resta de mim só escombros
não deixa tantos anseios assim perdidos
porque não anseia o que não se vela
pois este é o sinal de todo o desejo
senão como querer o que não se observa
e se não o vejo, como então o cortejo
Assim delineia-se uma conclusão
pode ser que eu não seja o que imaginei
talvez melhor ou pior conforme a ocasião
mas ainda resta o porvir do que eu não sei
e este eu o quero que venha,
Como ser tamanha quimera
se nem sei como que fui o que fui
se afasta de mim ser aqui na vera
o que foi de mim que não flui
E assim parte a ser tal assombro
da divisão dos caminhos seguidos
não resta de mim só escombros
não deixa tantos anseios assim perdidos
porque não anseia o que não se vela
pois este é o sinal de todo o desejo
senão como querer o que não se observa
e se não o vejo, como então o cortejo
Assim delineia-se uma conclusão
pode ser que eu não seja o que imaginei
talvez melhor ou pior conforme a ocasião
mas ainda resta o porvir do que eu não sei
e este eu o quero que venha,
de nada eu sabendo,
para que seja
para que seja
o que reaja com autenticidade
e assim se aflorará
e assim se aflorará
o que há de mim de verdade
se for o que sonho,
se for o que sonho,
assim não mais sonharei
E se
encontrar
o Eterno
o Eterno
e
for permitido
Dele
extrair
todo saber
resumido
resumido
e
todo
todo
o existir
e muito mais
do que eu penso
do que eu penso
tudo
será integralmente
reproduzido
num doce sorriso
e luminoso silêncio
e
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