sexta-feira, 5 de março de 2010

O banquete






Eu tenho sorte de não ser carroceiro a chicotear os bois que puxam

o carro.

Eu tenho sorte de nem ter uma carroça, porque não me perco entre

tempestades, borrascas e estradas de barro que levam para

lugar nenhum.

Eu tenho sorte de enxergar e não esquecer o que vejo, porque, se

dependesse apenas dos meus pés a guiar meu caminho, despencaria

montanha abaixo.


Sou um que não sabe ao que veio - como se alguém soubesse!

 E , se sabem, inventam que aquela é a sua própria estrada,

que, por ela, só eles podem de passar.

Porém, possuo a imaginação.

Ela é a minha carroça, os bois e o caminho.

Por onde essa minha carroça imaginária me leva, é aquele

que o instinto me aponta e eu me deixo levar.

Não luto, não opino, me transporto.

Cada animal é meu inconsciente, visto que meu consciente é como

o de um bêbado, que bebe para não ser notado à noite nem por ele,

embora cada pisada sua ressoe pelas paredes e pelas montanhas

como um trovão, e os que moram nas redondezas se perguntam:

- quem passará à esta hora da noite? sorrio tonto e sigo distraído.





Mas, aonde chegar?

O que verei lá, talvez não importe, e sim o próprio ir, a própria

viagem sirva ao meu propósito, diria um monge hindu.

Tento continuar à cada dia que segue, como todos fazem, porém

não quero mais reclamações.

O horizonte nasce claro e limpo, como o dia que quero galgar.

Minha carroça é lenta, mas chegará.

Os animais são dóceis e fortes, se lambem e comem na minha mão.

Sei que chegarei vivo ainda e para o último copo!

Ponham a mesa.

Sirvam o prato e tenham bom apetite!

O certo é que não deixarei o café esfriando.

Os animais precisam descansar!






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