Me dei conta que o amor deriva
pelos mares da imperfeição
e pelas terras desconhecidas do improvável
O que importa se a brisa é leve
e o meu coração flutua
Vem comigo, amigo
Deixa a sombra amarga de nossos defeitos
pelo vasto mirar do acontecer
O horizonte é um belo amante
que beija com a promessa do amanhã
e, só, o espera ali adiante
em seu leito branco
e linear com sua boca vã
o insaciável amor do navegante.
Anseia o que quer em si,
se firmar num belo ser
enquanto, só no seu mirante,
vê um continente perdido aparecer
O futuro assim te admira
te deseja
te recebe
te possui em breve surpresa
e te afaga
te constrói e intui que
apesar da correnteza dura
e o que mau tempo destrói
tudo é pela aventura em que
o amor é o herói.
Se portanto feliz e ruma
que o amor também o seguirá
Depressa, iça as velas
Anda, corre ligeiro, que o amor obediente te segue
te alcança, te atravessa
não dorme, é sopro ou vendaval
sem desespero
E aí pleno, estremece, aporta
e apenas é
infinito, nada, além, ponto, universo
E tu também o sendo - o devir, o sou, o será
o seu mundo, o esplendor
e o que não interessa e nem adianta pensar
o gozo depois da ansiedade,
luta, rebentar
Ou só nós ali
esquecidos, despidos, perdidos
enrolados na pele aquecida
do seu simples mirar.
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