domingo, 14 de março de 2010

A selva - primeira versão


Depois de longa jornada, campo lisos e vagos. A noite é calma e pensamos ali é o esteio, o repouso enfim. A viagem é finda, as estradas o passado. O pior já fora. O selvagem chamado da aflição, fim de nosso animal entranhado na herança inocente de nossos pais, está perdida no tempo, no esquecimento, um eco na distância - tudo apagado pra mim. Depois de arrasada a selva, a civilização interpõe-se, clarão e ordem. Pois, eis que então percebemos a cidade onde estamos. Temos a impressão que agora tudo podemos. Há paz, um suporte, a segurança de um método, da organização. Nossas cabeças se recostam em encostos macios, um vento sopra - o vento da ilusão. Pois, a selva não seria a selva, se não fosse indomável, incontrolável violência, eterna e inescrutável. Ela vence escondida e se entremeia, fecunda e se reproduz traiçoeiramente. Nós somos, pois, o seu adubo e as suas sementes, o avanço de sua fronteira verde e medonha, as ambições sangrentas de seus dedos galhos. Suas aflorações são alimentos do poder, abraços do terror e da brutalidade, seus infindáveis caminhos perdidos entre as palavras e de um calor úmido - as cidades perdidas, nossos corpos. É como perceber-se de repente, entre plantas famintas e a ganância de tesouros imaginários, entre monstros, feras, insetos, perdições e seus pusilânimes e rastejantes seres famintos ali, novamente, no seu mundo, nosso lar. Para a natureza pura e imaginária de nossos sonhos, apenas os desejos de sobrevivência e beleza é que renasceriam. Mas o que estará ali oculta realmente, desde então, será a verdadeira selva... a selva, a selva. Nem má, nem boa, mas quem nos leva e guia - a inocência, a ignorância. Apenas quem sobrevive lá vê a origem: - a selva, a selva, a selva - o rude cimento de nossas emoções. Quem nos tenta entre o torpor e o calor macio? As traições tem garras impiedosas - o inesperado, o cruel, o poder, o sem esperança, o desespero, o sem escrúpulos. Onde está o meu Deus? Por favor te imploro e me guia, e me diz, e me explica, e me ilumina porque à frente de mim está a escura, impiedosa, indiferente, a urbana selva continua a brotar sempre atrás de cada pensamento e ambição de nossos tolos corações quase domados. Escuta! Rugidos! Fujamos! Para aonde? Estamos perdidos? O paraíso se esconde entre as sombras e o negror das folhas.

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