quinta-feira, 4 de março de 2010

Cotidiano



algumas coisas são como são
os carros não param nas avenidas
tanta gente anda nas ruas
nascem, vivem, morrem

Madalena seca as suas mãos
no avental
olha para o vazio
pensa

e eu nem sei
porque falei nessa Madalena
quem seria Madalena?
quem seria eu?
serei eu como sou eu?

o tempo passa
e de que serve tudo isto?
é como é
não serve
apenas é
outros caminhos não são
são apenas passagem
mudam
transformam
reciclam
vivem a metamorfose
o-seu-des-ser

mas, e o que eu pensei antes?
as coisas são como são
é verdade
é como é
ou é como será?
ou já será como foi?
como se tudo
fosse um único sendo?

sim, uma verdade
eu estou sendo a mim
não há como não ser senão a mim
em sendo eu
eu fui
eu sou
eu serei
como tive ou terei de ser

tudo isso já existe em mim
dentro desse movimento 
o tempo
essa dimensão de ser fluxo
assim como essa tal de Madalena
que nunca vi
sujou e depois lava as mãos
e as guarda no bolso do avental

eu também lavo as minhas
também me sujo
também me lavo
torno a sujar
e torno a me lavar
eternamente
obcessivamente
nunca estamos competamente
desprovidos de algo
que não gostamos

porém
tudo será perdão
pois muda
flui
se transforma
como sempre





e continuando a ser
tudo será o que sempre foi 
transição
mudança
o deixar de ser
o não-ser mais
que já sendo é o que será
que já existe desde o inicio
e temos de mudar
entender o que fizemos
e porque fizemos
aceitar em nós
o que não queremos
e o tempo é como é
não existe mais, passa
somos eternos passageiros
somos tudo isso
e já passou
nada
tudo
como antes





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