terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


É tão simples escrever qualquer coisa
porque qualquer coisa pode ser como uma nuvem
pode ser como uma senhora a molhar suas plantas no quintal
pode ser como aquele operário que todo dia quebra a minha soleira

mas, essa qualquer coisa, para mim
não é uma simples qualquer coisa
porque é preciso que ela diga mais alguma coisa
sobre o que vem à mim
como vem uma brisa qualquer

então, se não é qualquer coisa
mas, qualquer coisa com algo mais
se entende que é alguma coisa
alguma coisa que tem um aproximar próprio
porque, senão, não a perceberia assim
e sim como qualquer coisa
e não teria uma cor, um som, um significado diferente
mais como uma alguma coisa ou aquela coisa

nada é tão simples para ser qualquer coisa
por exemplo, esse silêncio agora não é qualquer coisa
é como minha coberta, meu lençol, uma respiração
ou minha segurança de que poderei ouvir à mim mesmo
tem um função de dizer para mim que eu posso ser eu

e é tão difícil ser apenas alguém
e mais ainda ser eu
porque sinto que não sou nada
e qualquer um é sempre alguma coisa

mas eu não, sou aquele nada
porém, um nada que olha para cima e se vê tranqüilo
calmo em saber que ninguém também é mais do que nada
e é tão grandioso ser nada como ser um rei
que também não é nada
embaixo desse azul noturno, escuro, dormente
essa noite que nos achata, mas nos conforta
por ser tão familiar e indecifrável, inesperada, distante,
quase também nada

e nós também podemos o ser e somos
esses infinitos nadas
ou nadas
que são como oportunidades
de se diferenciar do seus nadas diários

Eu agora, por exemplo, sou um desses
um que escreve com sono
e fecharei os olhos feliz
de me abrir à qualquer coisa que se chama: não sei!
Não me incomoda!
Não é nada!

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