silêncio
tudo agora é silêncio
eu sou silêncio
o silêncio é o invisível da vida que me invade
é o mistério
castelos de pó
comédia ou drama
mas
sem sons
eu te digo algo
que nunca é o algo que se escuta
ou que te digo
e se pronuncio o que antes não tinha sons
isso se transforma em outro
pois muda, transforma-se no que paira
no que ecoa para o além de meu corpo
vindo de mim em outro
no que se entende de algo vindo de alguém
e que já se dispersa por onde não pensei
o que te falo, o que te escrevo
é o que te guia no labirinto, caminhos circulares ou só um fio
ou chamada para o meu silêncio, órgão-abstrato
a possibilidade da chama
o silêncio é meu corpo, o que se imagina, delírio, transfiguração
o que falo é só o aroma
o que escrevo é a matéria que transborda
ansiedade, linha, frase, panorama, verso, rima
o desejo da presença
a falta de tuas palavras que a alma clama
ausência do verbo, do ser que assim não existiria
pois é o oposto ao destino
rotura na trama
o que te digo é só o chamariz que envolve teu silêncio-corpo
em outra coisa
outro universo
um eco que te chama para que
me digas que é o teu silêncio-corpo
que agora é a mariposa enfeitiçada
que circula em volta da minha eterna
e acesa
chama
e o pulso ainda pulsa, enquanto escuto o meu cabelo crescer... ( livre associação sobre Arnaldo Antunes), beijos!
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