segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Silêncio ( para Clarice Lispector )

                                                                                                  
 





silêncio

tudo agora é silêncio

eu sou silêncio

o silêncio é o invisível da vida que me invade

é o mistério

castelos de pó

comédia ou drama


mas

sem sons

eu te digo algo

que nunca é o algo que se escuta

ou que te digo

e se pronuncio o que antes não tinha sons

isso se transforma em outro

pois muda, transforma-se no que paira

no que ecoa para o além de meu corpo

vindo de mim em outro

no que se entende de algo vindo de alguém

e que já se dispersa por onde não pensei


o que te falo, o que te escrevo

é o que te guia no labirinto, caminhos circulares ou só um fio

ou chamada para o meu silêncio, órgão-abstrato

a possibilidade da chama





o silêncio é meu corpo, o que se imagina, delírio, transfiguração

o que falo é só o aroma

o que escrevo é a matéria que transborda

ansiedade, linha, frase, panorama, verso, rima 

o desejo da presença

a falta de tuas palavras que a alma clama

ausência do verbo, do ser que assim não existiria

pois é o oposto ao destino

rotura na trama


o que te digo é só o chamariz que envolve teu silêncio-corpo

em outra coisa

outro universo

um eco que te chama para que

me digas que é o teu silêncio-corpo

que agora é a mariposa enfeitiçada

que circula em volta da minha eterna

e acesa

chama


Um comentário:

  1. e o pulso ainda pulsa, enquanto escuto o meu cabelo crescer... ( livre associação sobre Arnaldo Antunes), beijos!

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