terça-feira, 16 de março de 2010

Bom dia!



Todos sentem desejos, é certo. É bom sentir um sonho de perto.

Desembrulhar a malícia lenta e inevitavelmente. Risos. Carinho e urgência. O silêncio de se estar acompanhado e o universo que subitamente se faz matéria, se condensa até poder tocá-lo. E que então te chama.

O presente está ali, o tempo parou. Surge como uma surpresa à sua frente e te conduz a um oceano que pode te tragar e à sua embarcação, que extenuada e faminta, ruma ao desconhecido além, talvez praias inóspitas, mas que escondem ainda um perdido paraíso, o impossível possível - a falta, o que te determina a ser feito para lhe satisfazer de maneira vital, a lhe dispor ali, de uma hora para outra, tudo que nunca se teve - a razão para vida.

O destino da viagem, de repente, não é mais o futuro, mas o sempre-já que chegou, o que está ali à sua frente e te despe e se expõe, se desnuda, com toda urgência para te engolfar em sua própria carne que vibra. E te invade ciente da necessidade que transcende razões. Tudo é urgência, respiração veloz, bruta.

E, à sua volta, explodem foguetes imaginários que não se sabia que existiam, o tempo novo do que não se mede com tempos que se iniciam, e por isso mistério.

A presença se faz matéria fremente ao toque cada vez mais rápido, batidas e empurrões, pele à pele, na dor do querer, pela inundação à lhe queimar e uma umidade que nos amansa.

O interminável em um pequeno tempo para ver e explorar essa fome que não sacia - um dia de mil e uma noites no escuro, como quem espera uma rua com casas vazias e encontra uma cidade perdida e iluminada, feliz e, em algum lugar, a hospitalidade de um invisível querido.

Histórias se misturam entre suor, corpos e afagos e formam o novo, o que nunca se viu.

Chegaste à minha oculta morada, meu íntimo.

Então bata à minha porta, coma a minha comida, desperte a minha sede, durma o meu sono.
Acompanhe-me até o meu abandono, a caverna oculta onde se faz a minha entrega - não há mais pudor em ser ou não ser.

E me mostre o meu engano - acenda a luz para que veja quem chegou e descubra que há mais alguém, mas que adora o teu avesso, o que se vê e o que se imagina, toda embate, teu arremesso, a sua companhia, os dedos sempre acesos para o meu gelo. E, diante da bem aventurança, se dá o encontro.

À volta, agora, tudo e todos são os outros, o que não se entende, o gelo. Ao aqui, nada se compara em calor crescente e ao oásis revelado. E aí, então, esse deserto te agradecerá e finalmente te dará as boas vindas.

Bom dia!

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