quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MUNDOS






O amor é um idioma que só um sexto sentido escuta quando é falado

pois é a língua corrente

de um mundo que sonha outro mundo

que o escuta

sem saber que o mundo que quer

já está ali escondido ao seu lado!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Cores



                                                                                         foto de Thomas Ruff


Agora só penso com cor

cor de cor que foge quando se encontra sem cor

cor de céu imenso

cor amarela de quando o dia de aniversário é amanhã

cor de um sonho esquecido

cor das flores que caem quando você chega

cor invisível porém palpável

cor indigesta mas tratável com chás e boas noites

cor do mar quando se chama uma sereia

cor do caminhão desabotinado pelas estradas do não-sei-onde-vai-dar

cor avarenta sendo passada pra trás

cor dos seus olhos quando vêem um quadro meu

cor do lugar que é belo como você

cor da selva, da selva, da selva

cor de ninguém daqui

mas de alguém a carregar água atrás das serras

e vê um pingo cair à cada passo

e cor do breu se dissipando atrás da porta que fechei

porque descobri que é o amor que colore tudo

e porque tudo fica tão colorido

quando penso

em você!

























sexta-feira, 20 de maio de 2011











o horizonte existe

não duvide
dentro do que a gente vê e não alcança
por detrás dos olhos
dentro deles

o horizonte mora quieto
é belo
e parece inalcançável

é como o silêncio de uma festa
até que explode como um foguete de artifícios
ou um beijo do inesperado

é como um pardal que voa e voa
e procura entender do que é feito o azul
e escapa de tudo que não é azul
ou que não é ainda azul






hoje
o horizonte de mim surgiu à minha vista
vasto e veloz
unificador
uma nuvem ou linha mágica
me traçando um fim
um limite infinito a derivar
sem nenhum plano para navegação até ele
mostrou apenas uma rota para o mistério
arriscando a longínqua hipotenusa
querendo imposição de uma descoberta
além do que parco imagino

antes guiava
doidas barcas apocalípticas
negava qualquer meta perdida
como hoje, meu querer, meu afeto
o impossível, o invisível
ou o corpo do outro a se entregar

por isso
desbravei também oceanos em fúria
até a terra descoberta
aventura
o país da selva oculta em cada um
e à cidade perdida
que alcancei em segredo
e me descobri
desenterrando um deus que não era de pedra
mas vivo

mas antes
coletei esperanças
fui destemido
e me lancei
contudo, a sorte então
me surgiu em surto
me arrancou
me jogou
me bateu como a borrasca maltrata
e lança naus sobre os recifes



                                                                                 foto de Frank Hallam Day



porém
me agarrei à coragem como salvavidas
sobrevivi ao naufrágio
e venci
fui até a praia respirando
como a vida que há lá
ao longe
no horizonte perdido

aquele que lhe fixa os olhos
doce afago
trêmula aflição
e me misturei
me integrei
me afoguei
em desejos refeitos
mar de carne antes do repouso




terminara enfim todo confronto
como quando imaginei que ainda não chegaria à terra
sem horizontes
porém, graças
entendi que não
a gente sempre se engana

mas, naquele momento
ao contrário
já estava em meu ponto de encontro
a descoberta daquele paraíso que é só meu
que está ali
ou aqui
peito aberto
até onde o que se realizará

acena feliz por sua presença
sem frestas
sem medo
e à frente apenas estamos nós
unindo-se ao secreto derradeiro
o objetivo de uma vida
em ajuste

deixando impérios desconhecidos
a conquistar suas lutas ou destemperos
o horizonte de mim
essa união a ti 
não passiva

pois agimos, arrojamos e conseguimos
pois, toda vitória
casa com o horizonte
tange nossos fluxos
e ali se une

te abraço
sinjo fundo o que posso
e pleno da tua aliança
e o continente agreste emerge
por trás dos corais e recifes
salvação




nossa nau de união foi nosso olhar
nosso porto, teu leito
nossa ilha, todo fogo

é o dessonho sonhado
porque é real
e até a íngreme montanha escalamos
e o longe agora perto uniu-se
num íntimo cume

o horizonte é onde para sempre estaremos
o horizonte em nós
o horizonte que são seus olhos
meu pardal
meu vôo
e juntos entendemos de que cor é feito o azul
e porque o azul será sempre
o azul
 
 
 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 21 de março de 2011

Como todo mundo


vai pro teu lugar, menino

que o mundo é logo ali

está aqui, esta lá

ou mais além

à sua espera

mas acha teu lugar, garoto, vai!

agora, anda!


a luz me cega

tudo me aperta

me expulsa

e sigo

vou para à luz!



figuras surgem

batem à porta, rompem a soleira

balbúrdia, festa, bebidas e delírios

e depois passa, todos se vão

e você fica

você mentiu

para si mesmo

você não foi você

mas outro alguém

e esse é o prêmio

todos se vão e você aí




continuo a preencher a imaginação

desaparecem presságios, pensamentos

um milhão de movimentos elétricos, tantos impulsos nervosos

todos me empurram para quem realmente sou

menos a visão

que ainda não é clara

não quero ver o que sempre foi claro como o céu

a se tornar infinito e diferente acima das árvores, pura verdade


lá, a lagoa formiga de reflexos

e os fachos de luzes

fenestram minha sensibidade de olhar

tantas paisagens vazias

a cair em cada célula da massa de células cinzentas

memorizo tudo, cada  graveto abandonado e cada seixo

memorizo olhares e trovões

estou vivo!

e apenas miro e sinto meu corpo a pulsar


a porta se abre

é a semana que vem

a vida, o acontecer enfim!

ou a fuga



me lembro de um dia

quando ainda era domingo

mas um domingo como um dia comum

pois, terça não era

e quarta também não

não sei porque acho isso

talvez, porque seja hoje domingo também

fogem-me as razões

na época pensava em como deixar de ser assim

como deixar de sentir

aquilo que não se pode alcançar

como aquela fruta lá em cima da árvore de minhas lembranças

era sensato renunciar a não ser eu

já que era chegar ao impossível

fugia de mim mesmo

afugentava-me, não queria pensar no óbvio

apenas ser eu mesmo, nada além disso

só pensar como eu pensava de verdade

sentir o que eu sentia realmente

dormir como eu tinha de dormir

comer como eu queria

falar o que eu queria falar

entender o mundo como eu entendia, tão simples 

mas que me fazia entrar em pânico

querer fugir pelas ruas até não ter de olhar para mim mesmo

em algum reflexo a me cumprimentar dizendo

ei, você aí! olhe para mim, eu sou legal, como todo mundo

eu tenho defeitos como todo mundo tem

mas também tenho coisas maravilhosas aqui comigo


venha e me descubra, me conheça e me aceite

porque eu sou você

e não todo mundo!



mas naquela época, tinha tanto medo de mim mesmo

de sofrer

de errar

ou de acertar

e ter que abaixar a cabeça para mim mesmo

que espanto era o meu corpo



até um dia

quando naquele domingo caí em mim

lembro ainda de tudo de antes

o segredo então já não era mais mistério

que se materializou em milagre de ser como a verdade

inegável

e quem me fez a ver 

foi

você




se o meu sangue corresse pelo céu

eu te chamaria para olhar

como as minhas hemácias são rosas

no meu jardim-corpo-firmamento

e diria que são anjos rubros

que eu havia chamado para tratar e curar minha dor

ou alimentar meu amor em ser

o proibido

e por isso ver você como meu amor além do possível

se tornando ali possível



veja minhas células vermelhas voando como aqueles carros

como correm em busca de ar

das nuvens

do oxigênio

dos meus olhos à chover inocentes gôtas marginais

eles vem te buscar, te sequestrar

roubar sua imagem para dentro de mim



o amor nunca será proibido

ele não me deixa mentir para mim

que a única saída para vida é ser quem você é

cada um tem de ser como é

quem é

e ser apenas

a verdade

para dizer

vem comigo!

vem assim desnudado

sujar o nácar dos corais

sou oceano sem fundo

verto-me, lembro

sou afinal fluido

sou ar

seu sôpro

seu respirar

mas onde está você?

o mundo é muito grande!



toma teu lugar, menino

já me disseram isso antes

e nunca me corrigi

e por isso

ainda sei que sou menino

bem no fundo

mas aquele menino que aponta as árvores

que estão mais perto do céu

lá, naquele lugar onde eu sempre

achei  que estariam as melhores frutas, lembro

aquelas que eu queria te dar

e agora eu já estou aqui perto do céu, sou, sei

estou certo que vim aqui para isso!

pronto!

subi até lá

roubei uma

toma!

mas onde está você?

e o sol  acendeu o azul