Eu sou o Marcos Vasconcellos. Aqui eu escrevo o que me der na telha, o que me vem na hora de dormir, quando estou num onibus, ou no meio de um papo chato!
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
MUNDOS
O amor é um idioma que só um sexto sentido escuta quando é falado
pois é a língua corrente
de um mundo que sonha outro mundo
que o escuta
sem saber que o mundo que quer
já está ali escondido ao seu lado!
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Cores
foto de Thomas Ruff
Agora só penso com cor
cor de cor que foge quando se encontra sem cor
cor de céu imenso
cor amarela de quando o dia de aniversário é amanhã
cor de um sonho esquecido
cor das flores que caem quando você chega
cor invisível porém palpável
cor indigesta mas tratável com chás e boas noites
cor do mar quando se chama uma sereia
cor do caminhão desabotinado pelas estradas do não-sei-onde-vai-dar
cor avarenta sendo passada pra trás
cor dos seus olhos quando vêem um quadro meu
cor do lugar que é belo como você
cor da selva, da selva, da selva
cor de ninguém daqui
mas de alguém a carregar água atrás das serras
e vê um pingo cair à cada passo
e cor do breu se dissipando atrás da porta que fechei
porque descobri que é o amor que colore tudo
e porque tudo fica tão colorido
quando penso
em você!
sexta-feira, 20 de maio de 2011
o horizonte existe
não duvide
dentro do que a gente vê e não alcança
por detrás dos olhos
dentro deles
o horizonte mora quieto
é belo
e parece inalcançável
é como o silêncio de uma festa
até que explode como um foguete de artifícios
ou um beijo do inesperado
é como um pardal que voa e voa
e procura entender do que é feito o azul
e escapa de tudo que não é azul
ou que não é ainda azul
hoje
o horizonte de mim surgiu à minha vista
vasto e veloz
unificador
uma nuvem ou linha mágica
me traçando um fim
um limite infinito a derivar
sem nenhum plano para navegação até ele
mostrou apenas uma rota para o mistério
arriscando a longínqua hipotenusa
querendo imposição de uma descoberta
além do que parco imagino
antes guiava
doidas barcas apocalípticas
negava qualquer meta perdida
como hoje, meu querer, meu afeto
o impossível, o invisível
ou o corpo do outro a se entregar
por isso
desbravei também oceanos em fúria
até a terra descoberta
aventura
o país da selva oculta em cada um
e à cidade perdida
que alcancei em segredo
e me descobri
desenterrando um deus que não era de pedra
mas vivo
mas antes
coletei esperanças
fui destemido
e me lancei
contudo, a sorte então
me surgiu em surto
me arrancou
me jogou
me bateu como a borrasca maltrata
e lança naus sobre os recifes
foto de Frank Hallam Day
porém
me agarrei à coragem como salvavidas
sobrevivi ao naufrágio
e venci
fui até a praia respirando
como a vida que há lá
ao longe
no horizonte perdido
aquele que lhe fixa os olhos
doce afago
trêmula aflição
e me misturei
me integrei
me afoguei
em desejos refeitos
mar de carne antes do repouso
terminara enfim todo confronto
como quando imaginei que ainda não chegaria à terra
sem horizontes
porém, graças
entendi que não
a gente sempre se engana
mas, naquele momento
ao contrário
já estava em meu ponto de encontro
a descoberta daquele paraíso que é só meu
que está ali
ou aqui
peito aberto
até onde o que se realizará
acena feliz por sua presença
sem frestas
sem medo
e à frente apenas estamos nós
unindo-se ao secreto derradeiro
o objetivo de uma vida
em ajuste
deixando impérios desconhecidos
a conquistar suas lutas ou destemperos
o horizonte de mim
essa união a ti
não passiva
pois agimos, arrojamos e conseguimos
pois, toda vitória
casa com o horizonte
tange nossos fluxos
e ali se une
te abraço
sinjo fundo o que posso
e pleno da tua aliança
e o continente agreste emerge
por trás dos corais e recifes
salvação
nossa nau de união foi nosso olhar
nosso porto, teu leito
nossa ilha, todo fogo
é o dessonho sonhado
porque é real
e até a íngreme montanha escalamos
e o longe agora perto uniu-se
num íntimo cume
o horizonte é onde para sempre estaremos
o horizonte em nós
o horizonte que são seus olhos
meu pardal
meu vôo
e juntos entendemos de que cor é feito o azul
e porque o azul será sempre
o azul
segunda-feira, 21 de março de 2011
Como todo mundo
vai pro teu lugar, menino
que o mundo é logo ali
está aqui, esta lá
ou mais além
à sua espera
mas acha teu lugar, garoto, vai!
agora, anda!
a luz me cega
tudo me aperta
me expulsa
e sigo
vou para à luz!
figuras surgem
batem à porta, rompem a soleira
balbúrdia, festa, bebidas e delírios
e depois passa, todos se vão
e você fica
você mentiu
para si mesmo
você não foi você
mas outro alguém
e esse é o prêmio
todos se vão e você aí
só
continuo a preencher a imaginação
desaparecem presságios, pensamentos
um milhão de movimentos elétricos, tantos impulsos nervosos
todos me empurram para quem realmente sou
menos a visão
que ainda não é clara
não quero ver o que sempre foi claro como o céu
a se tornar infinito e diferente acima das árvores, pura verdade
lá, a lagoa formiga de reflexos
e os fachos de luzes
fenestram minha sensibidade de olhar
tantas paisagens vazias
a cair em cada célula da massa de células cinzentas
memorizo tudo, cada graveto abandonado e cada seixo
memorizo olhares e trovões
estou vivo!
e apenas miro e sinto meu corpo a pulsar
a porta se abre
é a semana que vem
a vida, o acontecer enfim!
ou a fuga
me lembro de um dia
quando ainda era domingo
mas um domingo como um dia comum
pois, terça não era
e quarta também não
não sei porque acho isso
talvez, porque seja hoje domingo também
fogem-me as razões
na época pensava em como deixar de ser assim
como deixar de sentir
aquilo que não se pode alcançar
como aquela fruta lá em cima da árvore de minhas lembranças
era sensato renunciar a não ser eu
já que era chegar ao impossível
fugia de mim mesmo
afugentava-me, não queria pensar no óbvio
apenas ser eu mesmo, nada além disso
só pensar como eu pensava de verdade
sentir o que eu sentia realmente
dormir como eu tinha de dormir
comer como eu queria
falar o que eu queria falar
entender o mundo como eu entendia, tão simples
mas que me fazia entrar em pânico
querer fugir pelas ruas até não ter de olhar para mim mesmo
em algum reflexo a me cumprimentar dizendo
ei, você aí! olhe para mim, eu sou legal, como todo mundo
eu tenho defeitos como todo mundo tem
mas também tenho coisas maravilhosas aqui comigo
venha e me descubra, me conheça e me aceite
porque eu sou você
e não todo mundo!
mas naquela época, tinha tanto medo de mim mesmo
de sofrer
de errar
ou de acertar
e ter que abaixar a cabeça para mim mesmo
que espanto era o meu corpo
até um dia
quando naquele domingo caí em mim
lembro ainda de tudo de antes
o segredo então já não era mais mistério
que se materializou em milagre de ser como a verdade
inegável
e quem me fez a ver
foi
você
se o meu sangue corresse pelo céu
eu te chamaria para olhar
como as minhas hemácias são rosas
no meu jardim-corpo-firmamento
e diria que são anjos rubros
que eu havia chamado para tratar e curar minha dor
ou alimentar meu amor em ser
o proibido
e por isso ver você como meu amor além do possível
se tornando ali possível
veja minhas células vermelhas voando como aqueles carros
como correm em busca de ar
das nuvens
do oxigênio
dos meus olhos à chover inocentes gôtas marginais
eles vem te buscar, te sequestrar
roubar sua imagem para dentro de mim
o amor nunca será proibido
ele não me deixa mentir para mim
que a única saída para vida é ser quem você é
cada um tem de ser como é
quem é
e ser apenas
a verdade
para dizer
vem comigo!
vem assim desnudado
sujar o nácar dos corais
sou oceano sem fundo
verto-me, lembro
sou afinal fluido
sou ar
seu sôpro
seu respirar
mas onde está você?
o mundo é muito grande!
toma teu lugar, menino
já me disseram isso antes
e nunca me corrigi
e por isso
ainda sei que sou menino
bem no fundo
mas aquele menino que aponta as árvores
que estão mais perto do céu
lá, naquele lugar onde eu sempre
achei que estariam as melhores frutas, lembro
aquelas que eu queria te dar
e agora eu já estou aqui perto do céu, sou, sei
estou certo que vim aqui para isso!
pronto!
subi até lá
roubei uma
toma!
mas onde está você?
e o sol acendeu o azul
domingo, 30 de janeiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
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