Eu sou o Marcos Vasconcellos. Aqui eu escrevo o que me der na telha, o que me vem na hora de dormir, quando estou num onibus, ou no meio de um papo chato!
quarta-feira, 28 de julho de 2010
O segredo ( para quem eu adoro )
uma figura precisa de um fundo
um jornal precisa de notícias
um carro precisa de passageiros
um livro precisa de histórias
um dia precisa de sol
um caderno precisa de letras
uma carta precisa de confissões
um pássaro precisa de amplidão
uma questão precisa de respostas
nada pode ser o que falta
tudo é o que completa se nada existe
nada se encaixa quando se está triste
tudo voa se o vento se faz uma borrasca
e se vai embora, agora não mais existe
o mar precisa de horizonte
um assobio precisa de sopro
a praia precisa de ondas
um castelo precisa de torres
a serra precisa dos montes
um doce precisa de lábios
um beijo precisa de desejo
um balão precisa flutuar
a rainha precisa de cortejo
a condessa precisa do conde
pra respirar preciso de ar
mas e quando se sente
que não se sabe o que lhe completa?
e se o que vier não der conta do recado?
mas se depois do que já está, ainda faltar uma lacuna?
e se o destino não for reinterado
mesmo contado as horas uma à uma?
e se nunca for uma linha reta?
e será que o futuro prescinde do passado?
mas se tudo isso não for uma verdade concreta
ou coisa nenhuma?
uma gaveta precisa de cartas
um pensamento precisa de liberdade
um movimento precisa de ideias
uma ressaca precisa de ondas
o homem precisa da verdade
um ninho precisa de ovos
um avião precisa das asas
os velhos precisam dos novos
dois corpos precisam de fogo
um vulcão precisa de erupção
e uma cidade das suas casas
e será que esse vazio se vai?
e se a estrada não for a lugar algum?
e se a dança se fizer sem música?
e se eu pular ao som do ritmo desse baticum?
e será que são necessário tantos acordes para ser uma manhã?
e virá o término do meu ser sozinho
e fará em mim o fim dessa vida vã?
e o ciclo se repetirá no seu caminho?
como saber o que em mim falta?
onde acharei enfim o meu xamã?
onde é a caverna que se esconde um carinho?
um perfume precisa de colo
os travesseiros precisam de cabeças
um carinho precisa de sentimento
a ladeira precisa de freio nas rodas
uma gaivota precisa de mergulho
um hino precisa de orgulho
uma festa precisa de alegria, whisky e soda
uma rota precisa de uma caravana
a fogueira precisa de lenha acesa
e Cuba precisa de Havana
portanto, o mundo sempre está a se completar
embora o tempo que isso se faça, seja
por exemplo, todo o tempo a se formar
porém, quem espera sempre alcançará ou não?
contudo, sempre fará algum sentido o que virá
de onde esteja?
todavia , não seja o arranjo perfeito exemplo
entretanto, sempre tantas esperanças há,
tantas esperanças , tão benfazejas
mas quem não tenta se exclui e não saberá a solução
nem o que ficará, estará a contento perdido
outrossim, terá algo a compreender ainda na mão
um baralho precisa das cartas
uma roupa precisa de botão
um corredor precisa de fôlego
uma bicicleta precisa de pedais
um arrependimento precisa do perdão
um animal precisa de comida
um automóvel precisa de gasolina
o céu precisa do azul
e um chinês da China
o teatro precisa de emoção
um cego precisa do que não vê
o ator precisa do momento
e eu
apenas preciso de você
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Díonisio devorado
ver-te
desfigurado pela memória
com toda a nossa vida
nosso mundo
nossa invenção
nossa história
no limite linear
do passado
em frente ao abismo
nebuloso
de você
dionísio devorado
me desintegra
me constrange
me rouba o chão
mesmo que eu soubesse
que já não existindo
existes em mim
e ainda o amoroso
em mim, por ti despertado
semente pequena e irrisória
de uma antes árvore imensa
que se fez lenha
agora será semeada
fértil pouso e amanhã
e que nascerá do nada
que nascerá de novo
que nascerá pra sempre
verde até a madura vitória
e a colheita farta
que compensará
o que se foi
o que ficou de fora
o que feriu ou magoou
sinto
que nada é inútil
nem mesmo o triste
ou o passado inglorioso
ou os limites em dor
ou o que se sabe
e não queria
no entanto
quando eu me pergunto
se me lembro do que não devia
agora que me rio de tudo
quando me surge ainda a mesma questão
pra quê?
porque?
silencio
descubro toda verdade
Eu desamo você!
domingo, 25 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Dorme em mim o que sonho
foto de Ralph Gibson
Dorme em mim o que sonho
dorme em mim o que se perdeu
vaga à noite de tantos cielos
à cada um uma luz se prometeu
E agora que abro os olhos
não enxergo o que vi dormindo
minha cabeça procura um nexo
que ao dormir surgiu sorrindo
sorriso de saber o que não existe
enquanto me vejo aqui existindo
Toda vida me perdi nesta busca
do que não existe a não ser dormindo
se valeu tanta briga, tanta luta
só saberei no escapar das horas findo
talvez mesmo só exista eu nesta gruta
do mundo desperto mera sombra seja
desfeito o sono em mim aflita imagem exulta
o infinito espanto que a claridade reja
Assim, prefiro a fuga
de não ver o que não pressinto
invento solto no céu sem lua
sou feliz se assim sinto
criando o gozo que dentro de mim atua
durmo e assim descortino o ponto
durmo, a vida é aqui feliz e perfeito encontro
do que almejo com a realidade nua
Dorme em mim o que sonho
dorme em mim o que se perdeu
vaga à noite de tantos cielos
à cada um uma luz se prometeu
E agora que abro os olhos
não enxergo o que vi dormindo
minha cabeça procura um nexo
que ao dormir surgiu sorrindo
sorriso de saber o que não existe
enquanto me vejo aqui existindo
Toda vida me perdi nesta busca
do que não existe a não ser dormindo
se valeu tanta briga, tanta luta
só saberei no escapar das horas findo
talvez mesmo só exista eu nesta gruta
do mundo desperto mera sombra seja
desfeito o sono em mim aflita imagem exulta
o infinito espanto que a claridade reja
Assim, prefiro a fuga
de não ver o que não pressinto
invento solto no céu sem lua
sou feliz se assim sinto
criando o gozo que dentro de mim atua
durmo e assim descortino o ponto
durmo, a vida é aqui feliz e perfeito encontro
do que almejo com a realidade nua
terça-feira, 6 de julho de 2010
O jantar está servido
Sem ti
toda alma prova o gozo
do sentimento desprovido
de toda grandeza
a solidão de prosseguir o almoço
sem ter ninguém a brindar o vinho
ou ninguém sentado
em torno à mesa
Mas, que fazer
se nada ou se ninguém interessa
quando nada lhe preenche
nem cresce, ou o prende
e toda surpresa súbito cessa
e até lhe traz angústia
por temer o que vem pela frente
Porém, como de novo
esquecer o temor
de como enfrentar as horas
se o que vem à noite
ainda é o vão de sua forma
o estrondo vazio
do que não lhe questiona mais
do que não lhe responde mais
do que não desarruma a casa mais
e depois não lhe abraça
e até lhe evita
se o acaso maldoso
faz com que se encontrem
para que aconteça
como uma traição
ao que à si próprio jurou
de jamais ter atitudes rudes
ou indignas
nem em legítima defesa
Voltando
então, à casa
tudo acentua a
abstrata lacuna
que tudo contorna
de um nada presente
que dentro em si constata
a ausência que não lhe deixa
E continua
por lhe evidenciar seu engano
e por sobrar tantos ecos
ressoando por todos os cantos
da lacuna, de seu apartamento
no vácuo de sua inexistência
como única prenda
como único bom dia
como único cumprimento
que não mais existia
Entretanto
o amor é assim
como o nascer do dia
que chega de mansinho
se escondendo
por trás da montanha
ao alvorecer
e pensamos, esperamos
a luz e o clarão
que viria a acabar
toda obscuridade estranha
Sabe-se porém
que, um momento, ele terá fim
como tudo que de vida se entranha
e o frio e o escuro deste ínterim
se ameniza nas imagens e lembranças
que a memória feliz
por graças ganha
Até que se olhe atento
ao sempre ali
velho e conhecido horizonte
e vemos de novo
de repente, o dia surgir
com seu céu à tudo iluminando
por trás da montanha
Mas, não se vê nada ainda
nem entendemos o que se passa
pois se nem janela temos
que agora por milagre
na mente achamos
e olhamos ávidos
o que há através da vidraça
e aí imaginando tudo
o cenário e os personagens
a ser como sempre amamos
e realmente tudo volta à luz
não mais nos assusta
nem mais nos amedrontamos
Então sem perder tempo
corremos e pomos a mesa
pois um convidado não esperado
à nós, a luz trouxe
e já ali bate à porta,
sem mais nem menos
pois revelou o que não víamos
ser tão claro
quando a mente está acesa
e então trazemos
tudo de melhor
que há para jantar
que à ele, com prazer
será servido
para que esse alguém
nos diga contente e comovido
bom apetite!
e nós escutemos por dentro
O jantar está servido!
E adeus, lá se foi a tristeza!
4/11/2007
pintura- La salle à manger sur le jardin - Bonnard
segunda-feira, 5 de julho de 2010
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