Eu sou o Marcos Vasconcellos. Aqui eu escrevo o que me der na telha, o que me vem na hora de dormir, quando estou num onibus, ou no meio de um papo chato!
quarta-feira, 30 de junho de 2010
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Se houvesse flores
foto de Anders Petersen
se houvesse flores
talvez existisse alguém que inventasse a palavra jardim
e que
descobrisse as minhas tristezas, meus cantos escuros
meus becos sozinhos, os canteiros secos de toda terra
quase um nada
com as suas árvores nuas, impacientes, ignorando todo existir
que não lhe balança os ramos, pois ainda não venta
se não há o que vir
e com
a sua paciência, arrancasse dali todos esses frutos tristes
duros, do fundo dos vazios ocultos, impuros com tudo que
não fosse colorido do adentro apagado e fosco, tenso ou estéril
e em
íris revertesse ao que traz a cor do em si, subterrâneo e oprimido
mas que, às vezes, se supõe que exista por um segundo, quando
extravaza subitamente,como um jorro indomável do que se produz
com o que há em mim, pelo espaço desse mundo do improvável
em que tudo respira e se observa em matéria vibrante, viva
e depois
ali plantasse a calma, sem a velocidade da bem aventurança
que explode em velocidade, em fazer voando e por correrias
como movimentos de raios elétricos estabanados
o que tiver de fazer
porque a ligeireza é o tom de quem não mede tempo pra se divertir
e que
não quer o espaço de pensar no fim
mas, ao contrário, que fizesse com a tranquilidade ritual
semeando risadas e inocência, pouco à pouco, com as minhas
coisas boas da infância - as brincadeiras, os jogos de pique, tudo
que eu não esqueço encantado
e que
na minha lembrança de todas as felicidades, ainda tenho soltas
e graças aos céus
não assim tão poucas, pois escorrem estravazando pelas bordas
plenas, nesse ínterim
e depois
fertilizasse todas as frestas e ranhuras plenas de insegurança
medo e solidão, todos os problemas
simplesmente encerrados
apenas com uma palavra
- sim -
foto de Robert Mapplethorpe
e pudesse
lhe envolver no seu cheiro, perfume, e uma cor que
você não encontra, que de repente transparece
fazendo tudo mudar
o ardor viceja, desponta - e pronto - a sorte voltou a atuar
tudo reluz e se abre, cresce
olha-se pro o céu límpido, os pássaros, a delicadeza das nuvens
e o vento
tão doce que passeia por seu corpo que agora
se sente querido, em paz
voa
mas, como
conhecer a palavra flores, se não conheço todos os
segredos que existem em mim?
então, imagino
se houvesse flores é porque já as vi bem perto de
onde moro, ou por onde sigo meus olhos, por meu caminhos
esquecidos, pela água de um rio passado, quando passo com
atraso, ou mesmo, talvez, ali bem perto de mim
é que
talvez eu não as olhe e não me dê conta de quantas sementes
quantos botões se abrem, germinam em cores, em amarelos, azuis
ou violetas, brancas ou carmim, por não serem parte de minhas
obrigações, das minhas urgências, é o invisível comum
daí
me deitei , me despi do mundo, e pensei como podia isso
ter acontecido comigo, logo eu tão preciso em detalhes, tão
objetivo em minúcias, tão claro em observar que nem tudo
que vem na vida, vem porque estamos acordados
o quanto na vida nos distraímos do que achamos que não
é preciso, quando às vezes apenas um soslaio de alguém
perdido, ou detalhe de um gesto esquecido, nos faz ver
o que realmente nos prende ao que somos ou porque somos assim
e nem eu
em meu sono profundo, se quero ver que haja flores
me permito que eu seja apenas a alma presa dentro de mim
e dormi
e as flores vieram, todas.
e quando menos esperava
a fortuna, vinda na forma de meu
espírito liberto, me abriu as mãos e ali pôs sementes bem
pequenas, arrumadas em silêncio e cerimônia, como as letras
de uma palavra que eu não li, porque eu não precisava, pois
me lembrei que era algo que sempre conhecera
que eu já sabia que era a palavra
JARDIM.
foto de Issei Suda
se houvesse flores
talvez existisse alguém que inventasse a palavra jardim
e que
descobrisse as minhas tristezas, meus cantos escuros
meus becos sozinhos, os canteiros secos de toda terra
quase um nada
com as suas árvores nuas, impacientes, ignorando todo existir
que não lhe balança os ramos, pois ainda não venta
se não há o que vir
e com
a sua paciência, arrancasse dali todos esses frutos tristes
duros, do fundo dos vazios ocultos, impuros com tudo que
não fosse colorido do adentro apagado e fosco, tenso ou estéril
e em
íris revertesse ao que traz a cor do em si, subterrâneo e oprimido
mas que, às vezes, se supõe que exista por um segundo, quando
extravaza subitamente,como um jorro indomável do que se produz
com o que há em mim, pelo espaço desse mundo do improvável
em que tudo respira e se observa em matéria vibrante, viva
e depois
ali plantasse a calma, sem a velocidade da bem aventurança
que explode em velocidade, em fazer voando e por correrias
como movimentos de raios elétricos estabanados
o que tiver de fazer
porque a ligeireza é o tom de quem não mede tempo pra se divertir
e que
não quer o espaço de pensar no fim
mas, ao contrário, que fizesse com a tranquilidade ritual
semeando risadas e inocência, pouco à pouco, com as minhas
coisas boas da infância - as brincadeiras, os jogos de pique, tudo
que eu não esqueço encantado
e que
na minha lembrança de todas as felicidades, ainda tenho soltas
e graças aos céus
não assim tão poucas, pois escorrem estravazando pelas bordas
plenas, nesse ínterim
e depois
fertilizasse todas as frestas e ranhuras plenas de insegurança
medo e solidão, todos os problemas
simplesmente encerrados
apenas com uma palavra
- sim -
foto de Robert Mapplethorpe
e dali
o inesperado em flor surgisse em forma de fato e surpresa
essa que, às vezes, explode surda, muda, de todo acesa nas ruas
que o acaso desce, e você, coincidentemente, também, surgindo
como uma pessoa que de repente vemos, e a gente mal reconhece,
que você tivesse cansado de esperar toda a vida e só uma prece
ou o horizonte lhe apontasse o seu lugar, e de repente lhe surgisse
assim do nada, na sua frente, suave, leve, materializada.
o inesperado em flor surgisse em forma de fato e surpresa
essa que, às vezes, explode surda, muda, de todo acesa nas ruas
que o acaso desce, e você, coincidentemente, também, surgindo
como uma pessoa que de repente vemos, e a gente mal reconhece,
que você tivesse cansado de esperar toda a vida e só uma prece
ou o horizonte lhe apontasse o seu lugar, e de repente lhe surgisse
assim do nada, na sua frente, suave, leve, materializada.
e pudesse
lhe envolver no seu cheiro, perfume, e uma cor que
você não encontra, que de repente transparece
fazendo tudo mudar
o ardor viceja, desponta - e pronto - a sorte voltou a atuar
tudo reluz e se abre, cresce
olha-se pro o céu límpido, os pássaros, a delicadeza das nuvens
e o vento
tão doce que passeia por seu corpo que agora
se sente querido, em paz
voa
foto de Robert Mapplethorpe
mas, como
conhecer a palavra flores, se não conheço todos os
segredos que existem em mim?
então, imagino
se houvesse flores é porque já as vi bem perto de
onde moro, ou por onde sigo meus olhos, por meu caminhos
esquecidos, pela água de um rio passado, quando passo com
atraso, ou mesmo, talvez, ali bem perto de mim
é que
talvez eu não as olhe e não me dê conta de quantas sementes
quantos botões se abrem, germinam em cores, em amarelos, azuis
ou violetas, brancas ou carmim, por não serem parte de minhas
obrigações, das minhas urgências, é o invisível comum
daí
me deitei , me despi do mundo, e pensei como podia isso
ter acontecido comigo, logo eu tão preciso em detalhes, tão
objetivo em minúcias, tão claro em observar que nem tudo
que vem na vida, vem porque estamos acordados
o quanto na vida nos distraímos do que achamos que não
é preciso, quando às vezes apenas um soslaio de alguém
perdido, ou detalhe de um gesto esquecido, nos faz ver
o que realmente nos prende ao que somos ou porque somos assim
e nem eu
em meu sono profundo, se quero ver que haja flores
me permito que eu seja apenas a alma presa dentro de mim
e dormi
e as flores vieram, todas.
e quando menos esperava
a fortuna, vinda na forma de meu
espírito liberto, me abriu as mãos e ali pôs sementes bem
pequenas, arrumadas em silêncio e cerimônia, como as letras
de uma palavra que eu não li, porque eu não precisava, pois
me lembrei que era algo que sempre conhecera
que eu já sabia que era a palavra
JARDIM.
foto de Issei Suda
quinta-feira, 3 de junho de 2010
A verdade e o invisível
falemos a verdade
e a verdade é que tudo é invisível
ou melhor
veio do invisível e se tornou visível
e nós percebemos esse invisível
quando pela primeira vez o descobrimos
quando nos deparamos com ele
ao abrir os olhos para esse mundo inteiro
nos engolfando em um nada cheio de formas, sons e cheiros
e nos sentimos completamente sós e desamparados
nessa imensidão onde não vemos limites ou um fim
e então não entendemos porque vivemos cercados pelo invisível
quase nos afogando nele
quando aí o inalamos sôfregamente
até que algo por dentro se infla, não sabemos bem como
e vem um impulso como ao sair de uma prisão quente e abafada
que depois identificamos como um berro
ou choro
ou a vida
porém, o invisível não é apenas o que não se vê, o que não se toca
e sim o que se percebe pelo que não está ali
mas o que está em qualquer lugar onde não se existe
mas que mesmo assim
quer ser percebido, sentido
até que lhe doa a vista
ou que lhe fira os ouvidos
ou lhe contraia os intestinos e arda em sua pele
ou que mesmo enlouqueça a sua mente
como uma criança que não para de pregar peças e fazer arruaças
a lhe fazer doer a cabeça como se ela estivesse rachando
para que, enfim, quando você estiver à ponto de endoidar
num rompante de desespero, quando já olhar
para os móveis e eles lhe sorrirem, parecendo se mover
num frenesi como numa dança tribal e antropofágica de
seu próprio sacrifício doméstico em honra aos que não enxergam
foto de Sven Turck
e as estrelas fosforescentes, que brilham no imaginário
de qualquer estrela fútil e megalomaníaca de Hollywood
girarem, como num chapéu mexicano de um parque de
diversões lisérgico, enlouquecido por doses extravagantes
e abusivas de ayahuasca e marijuana
e quando para você não houver mais os pés sobre o chão
e nem cabeça lhe habite o seu lugar tradicional
em cima do pescoço e sob o céu cheio de nuvens
a lhe chover gatos pingados, molhados e arrepiados
e você num ato de derradeiro de subsistência, grite com toda
força de seus pulmões, arrasados por toda a sua vida de
excessos e irresponsabilidades marotas de sua adolescência
maluca e maturidade descompensada :
- Chega , me diz por favor o que você quer, que lhe obedeço
mas pare com isso agora pelo amor de Deus, por favor
tenha piedade! Eu lhe entrego o que você quiser, tudo
mas pare, eu lhe imploro! O que eu te fiz? Pare,agora!
e aí ele se volta, senta-se em sua poltrona favorita
sopra, por sua boca invisível, círculos de fumaça
de algum cigarro imaginário de uma grife divina
e , te encarando, resolve lhe dar uma oportunidade
dizendo meiga e suavemente
como se nada tivesse acontecido
que tudo que houve
foi para que saísse de si mesmo e se desse conta
do que havia ao redor, do que lhe cercava
e principalmente dele - o invisível
foto de Liu Bolin
e que sempre aconteceria isso, porque
ele existia ali, na sua frente, e que você não se dava conta
e que então faria isso até que percebesse toda
a carência que ele tinha de não ser, para que assim
se delineasse o seu vazio ou sua falta de alguém que lhe
abraçasse e que lhe pudesse dizer
olha, eu estou aqui
eu existo
e preciso de você
disse então queria ouvir isso apenas para que fosse aceito
e não lhe trouxesse mais qualquer medo
e que pudesse existir assim mesmo, invisível
e ser querido exatamente por ser assim
para que lhe possa penetrar por seu corpo e mostrar um lado
mais doce e belo, pronto a lhe servir
como a todo gênio humano sempre servi
para que me ordenasse
me organizasse
me harmonizasse
nas mais sublimes melodias, inesquecíveis harmonias
ou em ritmos atordoantes a lhes despertar o humano
e para que eu possa despertar a todos em poesia
para que ali enxergassem à ele - o invisível
foto de Michael Manheim
e para que eu despertasse também a minha invisibilidade
e me tornasse de alguma maneira invisível
porque os seres humanos são assim
tudo organizam
tudo arrumam
tudo enfeitam
e o mundo lhe faz então um sentido confortável
de ter sido pacificado e que há um controle
e querem assim mesmo, daquela maneira
o que não vêem
o que não compreendem
apenas sentem
intuem
mas não conhecem verdadeiramente o invisível
porque querem tudo visível
foto de Fred Lébain
porque os faz perceber que esse universo, como todos os outros
que podem existir por aí, não são nada, e que, mesmos eles
não são nada
o que os apavora de sobremodo
e que o invisível é sim
o imensurável
o desconhecido
o absurdo
o inesperado
o que não se pode entender sem ter medo
ou despertar o êxtase
o espanto ou até mesmo a felicidade
ou o amor
foto de Don Gregorio Anton
que é o próprio existir - a essência da vida
o movimento que, ao se cansar da imobilidade de ser um
de ser sozinho
e resolveu usar sua energia para gerar um deslocamento
para um talvez desconhecido
originando tudo em círculos
voltando sempre para si retomando energias
e partindo para novas aventuras
inventando tudo o que hoje há
como o espaço, o tempo
e tantas outras dimensões ainda invisíveis
e por isso imperceptíveis aos nossos toscos e insensíveis olhos
e que ali, agora, apenas se permite humildemente, que o ordene
para que o aceitemos, o adotemos como cria afável
que permite que se eduque para te ninar
ou mesmo te abraçar com seu corpo invisível e lhe passar calor
agradável, para que durmas sossegado, ou a lhe esfriar a pele
para que suporte o calor que lhe queima a pele, ou acenda
humores que turvem a mente e incendeiem o olhar
embora se entenda por aí , porque surgiu a arte
assim
do olhar
do que existe e por consequência está vivo, pulsa
foto de Madge Donohoe
mas, surpreendentemente, o invisível também pulsa , freme
e também habita toda e qualquer boa arte porque a transcende
com o mistério
com o que não se explica
com a aura
com o segredo de ser - não sendo, até que se o perceba
sinta-o
veja-o
ali muito mais vivo de tudo que é apenas visível
com todos os nossos olhos de ver além
e que não são esses dois espaçados na cara
separados pelo nariz
por exemplo
o amor é o invisível visto com os olhos do coração
e a alegria é o invisível visto com olhos do sorriso
o carinho é o invisível visto com os olhos da tocar
a delícia é o invisível visto pelo olhos do paladar
o perfume é o invisível visto com os olhos do desejo
a fúria é o invisível visto pelos olhos da tempestade
a melancolia é o invisível visto com os olhos da dor
e a pressa é ..deixa pra lá, não importa, não dá tempo!
eu, então
pessoalmente
aprendi que sinto o invisível
sempre presente como um companheiro imprescindível
a penetrar a minha mente e a tocar meu corpo e meus órgãos
ininterrupta e prazeirosamente
até que ele me diga porque ele se faz
urgente naquele instante, pedindo para ver sua a
sua configuração, a sua transparência que não habita
lugar nenhum, porque todos os lugares são sua casa
e onde estende o seu corpo que parece não-ser e se faz prazer
ou dor imensurável ou mesmo se aquieta
em sua quase inexistência
foto de Emmet Gowin
é como meu par querido, que eu sei que está ali
mas que nunca saberei com certeza qual será
sua manifestação
a receber tudo que se desfaz
ou a fazer tudo que é
e que veio dele
para que nós
com tudo o mais
partíssemos para conhecer o que pudesse acontecer
perdoando aos nossos caminhos
porque entende que apenas foi mais um caminho vindo dele
voltando até ele, como um círculo vicioso
o invisível que se faz visível, cria
e lhe tem afeto e precisa dele
e que à isso nós damos o nome de amor
e por isso voltamos ao invisível
por seu amor
mas que sempre estará por perto por que somos um só
vivemos não cercados do invisível , mas dentro dele
ou melhor somos o movimento que a partir dele
vindo dele,
e parte dele
nos fez visíveis, concretos, para senti-lo, para ama-lo
em seu infinito saber
o que adquiriu também por estar em nós
sobre nós
por nós
para nós
para sempre
como
o Eterno
Assinar:
Postagens (Atom)