foto do Himalaya- Cachemira
o que tanto admira
que de teu poço escuro
ascende
e de si retira
o que há de vão e impuro
e faz ser o que inexiste ou imaturo
a certeza de acerto
um paraíso acima de cachemira?
pode o mar bramir
que não te importa
porque estás além da fúria
e do que possa existir
seja espanto ou injúria?
será verdade que possa ir
até esse estar perfeito
sem temor ou sem negruras?
foto de Dod Ojin Ming
se o insano
de nós o real aparta
ou a felicidade pra mim insegura
também deste mundo nos descarta
será melhor viver nas alturas
enquanto aqui a aflição se farta?
ou será melhor colocar asas na bravura
e seguir reto até o que nos afronta
e ver quem de si pode tomar conta?
foto de Parke Harrison
ah! isso também é o que admiras?
tantas reviravoltas à imaginar
imaginar
imaginar
e o que está logo à frente
o que nunca vira
é a prova de que ser
o que possa realizar
é o que procura
se deixa de ser mentira
se ali se materializar
foto de Doisneau
então, tudo surge
e aí está a maravilha
até onde se possa pensar
tirar de si
para haver nessa beleza
o que nunca existira
as montanhas mais altas
e o que nem se pudera pensar
ou nunca vira
foto do Himalaya
pois, de si, criara o seu mundo
sem pensar no que lhe espanta
aceitando o que lhe vem como fonte clara
que só existe porque o vê por dentro, em seu mais profundo
que ali está e sempre existiu como o inexplicável
que sem palavras se entende
como o além que trazemos por dentro
que nos surge quando sabemos
que nós o trazemos sempre
para que surja quando percebemos
que desde sempre estivemos juntos
porque o que se inventa somos nós mesmos
ali luzindo como um milagre que se cumprira
porque é dali que construimos
o que fomos
o que somos
o que seremos
e todo nosso mundo
Picasso e Braque- pintura de Mark Tansey
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