ônibus 415 - Usina-Leblon
Um dia, lá pelas sete da noite, depois de um dia cheio, já cansado,
parei num ponto de ônibus solitário em Ipanema, na altura da
Praça da Paz.
Fiz sinal à um ônibus, que me pareceu que me convinha, o qual
parou de imediato. Ao segurar no corrimão, do lado de fora do
ônibus - o 415, chamado de Usina/Leblon, pretendendo tomá-lo
para ir para casa no começo do Leblon, que é uma distância
relativamente próxima de onde me situava então, senti uma
súbita enxaqueca - uma compressão enjoativa dentro do meu
crânio, que vinha da nuca, contornando a cabeça, até a
minha fronte acima dos olhos.
Acompanhando essa sensação muito desagradável, uma ideia
me surgiu,de repente, em minha mente como uma realidade
concreta - a de que ia ser assaltado. Acreditei sem raciocinar
e hesitei em tomar aquele ônibus, temendo que ali se encontrasse
o possível assaltante. Mas, como sou formado em psiquiatria,
apesar de não exercê-la, me auto critiquei me chamando de
paranóico e delirante e coisas afins.
Entrei no ônibus meio cabreiro, porque aquela ideia não me
abandonava e me sentei num lugar no meio do ônibus.
Para mim aquele acontecimento, seria um momento, conquanto
apavorante e horrendo, como a dor que não me largava, mas
com certeza inesquecível, porque eu jamais havia sido
assaltado antes em minhas dezenas de anos vividos, pelas graças
de Deus e de todos os santos.
Mas, diante da perspectiva tenebrosa que me aguardava,
conforme os presságios que me atingiram, constatei, para meu
alívio, que o ônibus se encontrava praticamente vazio, só sendo
usado por uma velhinha que se sentava lá na frente.
Ri de mim mesmo e de como eu, tão bem assessorado por
meus anos de estudo superior e trabalho em uma área
especializada em coisas desse tipo, podia cair em tal cilada.
Tive vergonha de que eu, um dia, me dispusesse a contar
para alguém tal maluquice.
Entretanto, duas coisas não me abandonavam : - a ideia
obsessiva de que ia ser assaltado e a tal da torturante
cefaléia.
O ônibus avançava pela rua desocupada de maneira vertiginosa,
não parando em nenhum ponto de ônibus, mesmo porque não
havia nenhum passageiro querendo pegar um ônibus que já se
dirigia para seu ponto final de parada e que ficava bem próximo
dali, portanto de uso inútil para a esmagadora maioria do povo.
E assim foi, ele disparou através do trânsito pegando todos os
sinais abertos, até que virou na rua em que havia seu ponto final,
meu objetivo também, visto que morava algumas dezenas de metros
adiante. Então parou - pegara um sinal fechado.
Meu prédio - eu morava na época com os meus pais na época,
depois de uma fase difícil onde o apartamento que eu alugara
desabara com tudo o que tinha dentro - era um apartamento grande
e claro, bem situado, de classe média alta, num terreno apossado
pelos militares da ditadura, o governo da época, e com uma vista
cinematográfica para toda Lagoa, para o Cristo, além de ver o mar
e toda Ipanema - um lugar privilegiado por seu visual, chamado
de Selva de Pedra, por causa de uma novela de sucesso daqueles
tempos. Tinha sido adquirido graças, eu diria, ao esforço
sobrehumano de meu pai e a força de um tio meu que era
militar na época.
E o ponto de ônibus era logo ali pertinho.
Vista da janela da sala do apartamento dos meus pais
Porém, o ônibus havia parado no sinal exatamente antes do
quarteirão final e, para meu espanto, abriu as portas e
deixou subir pela frente, para não pagar passagem,
uma galera que identifiquei de imediato como sendo uma
"tchurma" da Cruzada de São Sebastião, isto é, dos prédios
construídos num terreno público, que na época havia sido uma
favela às bordas da lagoa, chamada Praia do Pinto, que
perpetuava desde suas reminiscências a existência de um
refúgio dos escravos fugitivos no século dezenove, chamado
de Quilombo do Leblon, que se transformara numa favela,
perto da Chácara do Céu, que depois havia sido removida
para ali, para se vender os terrenos.
Com a vinda dos nordestinos, crescera se estendendo pelas
beiras da Lagoa Rodrigo de Freitas, transformando tudo
num esgoto fétido e contaminado.
foto Arquivo Nacional - reprodução
Favela da Praia do Pinto
Essa favela se incendiara em 1969, levantando um clamor nacional,
pois se suspeitara que o próprio governador e sua assessora
haviam tramado para erradicar aquele núcleo de favelado de
uma área perto de uma área de classe média alta e rica, porque
não foi a única favela a se incendiar naquela época, de maneira
muito parecida.
Registro do incêndio da Favela da Praia do Pinto
O terreno que vagara, daquela comunidade carbonizada e expulsa,
fora tomado pelo exército que ali resolveu construir prédios civis
de moradia para os próprios militares - isso no inicio, mas, depois,
é lógico que não fora bem assim - com o passar das décadas tudo
muda de mãos .
foto Arquivo Nacional reprodução
Cruzada de São Sebastião
Porém, a Cruzada havia sido erguida antes desse incêndio e
dessa época, sobrevivendo à este, por ser uma série de prédios
modestos e sem acabamento de seis andares de cimento e
tijolos e não barracos miseráveis de pau à pique como todo
o resto, sendo executados com dinheiro da paróquia por um
bispo muito poderoso e de tendências claramente socialistas
e democráticas, Dom Hélder Câmara, ao qual sempre admirei
por sua coragem e desprendimento.
Por um acaso, ficava logo ali, pertinho do ponto final e, é claro,
também próximo da minha casa.
Eu procuro não ser preconceituoso, mas diante das
circunstâncias, eu pensei de imediato que, se houvesse
alguém para me assaltar, teria que ser logicamente alguém
daquele bando - não me via sendo assaltado por uma
velhinha de setenta anos, obviamente.
Me levantei carregando um saco plástico amarelo de
supermercado em que eu levava duas fitas cassetes,
uma gravada com um concerto de Bach para Piano e
orquestra, e outro com uma coletânea de canções de
João Gilberto, também uma nova edição de um livro
que acabara de comprar e que há muito procurava
- A Fugitiva de Marcel Proust, além de um uniforme
de ginástica, com camiseta e short novos em folha, também
récem adquiridos com etiquetas e tudo.
Passei por eles, que não me olharam diretamente, porque
conversavam com o trocador, que devia conhece-los, e
esperei o ônibus chegar no ponto final.
A fugitiva de Marcel Proust
na edição que eu procurava
Concertos para piano e
orquestra de nºs de 1-5&7
com Leonard Bernstein- solo
O cd fatídico de João Gilberto
o ônibus rapidamente parou em frente do ponto, que se encontrava
lotado de gente que voltava do trabalho, principalmente senhoras
carregando bolsas e embrulhos e meninas que deviam ser
domésticas diaristas cansadas e loucas para chegar em casa,
depois de limpar, cozinhar e aturar as frescuras das madames
e dos seus filhos mimados e insuportáveis.
Interior do ônibus
Desci as escadas pensando que, se alguém ali poderia ser assaltado,
era, infelizmente, alguma daquelas mulheres do ponto final,
dando sopa com as suas bolsas e trouxas de roupas, e sem nenhum
macho valentão presente para protegê-las desse safado mundo
cão. É necessário acrescentar que, aquela área, era em frente
à décima quarta delegacia de polícia, que poderia ser vigiada
de lá apenas com um lançar de olhos por qualquer policial,
de tão próxima que era.
Embora a dor de cabeça não me largasse nem um segundo,
depois daqueles, praticamente, quase cinco minutos que o
ônibus demorou para me trazer de onde me encontrava até
ali, parei na porta do ônibus, em frente à fila que aguardava
no ponto para entrar no ônibus, olhando todo mundo nos
olhos e atravessei para o outro lado da rua, observando às
minhas costas, cautelosamente, se alguém não me seguia,
num comportamento totalmente persecutório, isto é, de
quem se sente perseguido - mas, a rua estava vazia.
Do outro lado, um pouco mais adiante, tornei a olhar para
trás, tentando ver se alguém me seguira, o que verifiquei
que realmente não acontecera, pois para trás a calçada
estava deserta, iluminada apenas pelos esparsos postes de luz.
E foi só neste instante, que me acalmei e relaxei, passando a
ansiar apenas chegar em casa para tomar um analgésico e
me distrair de tudo vendo televisão, como eu merecia,
depois daquilo tudo.
Pensei nos telefonemas que havia de dar, quantas calorias
poderia digerir para não engordar e todas as coisas que
comumente penso antes de chegar em casa, já satisfeito de
que aquela ideia maluca não tinha se realizado, e pensei que
a minha carteira possuía ainda algum dinheiro, mais quarenta
dólares, que não precisei trocar para reais, e que fora o que
sobrara das compras que fizera.
Foi quando senti, algo subitamente, como uma mão dando
um tapa em minhas nádegas, me alisando a minha perna
direita, desde dos bolsos até as meias.
À princípio, achei que pudesse ser uma brincadeira sem
graça de algum amigo, ou mesmo o gesto desavergonhado
de algum tarado da noite. Parei e olhei assustado para
baixo e me surpreendi em flagrar uma mão audaciosa dentro
das minhas meias, as vistoriando, como se quisesse achar
algo que eu ali tivesse ocultado.
Então, senti uma pontada gélida e real no meu pescoço.
Foi quando ouvi uma voz baixa, sussurrando em meus ouvidos,
que se eu me mexesse eu morria, que ele ia me apagar, e que o
que eu tinha comigo não era mais meu, e sim dele, agora, e que
eu devia entregar tudo pra ele, se quisesse sair dali numa boa,
sem me arrepender de ter feito alguma bobagem e me dar mal.
Levantei meus olhos em direção a voz que em sussurrava
em meu ouvido e vi, paralisado, que era um daqueles
rapazes do ônibus que me seguira de algum modo a que
eu não percebesse, talvez pelo outro lado da rua, e ali
estava, me espetando a jugular do meu pescoço com um
finíssimo estoque, como uma agulha de tricô enorme de
aço, feita de um vergalhão de ferro, afiada como uma faca
e que brilhava sinistramente no escuro.
Seu rosto de pele escura, os olhos esgazeados e negros, o tufo
despenteado de cabelos ásperos e selvagens meio coberto pelo
capuz cinza de sua jaqueta de malha, eram iluminados pela luzes
de néon dos postes da rua, parecendo aumentar a expressão de
filme de terror. Formava em sua expressão, como uma máscara
do que se estereotipa o que seja um demônio, coroado por sua
bôca com dentes proeminentes e afastados no meio, um espaço
negro e vago entre os dois incisivos, como se ali, naquela cara,
como a de semblante de um vampiro horripilante que estivesse
pronto a morder e sugar a sua vítima, houvesse sido
materializada a anormalidade e o vazio furioso e disforme
de seu caráter.
Não ousei mexer um músculo sequer e entreguei tudo como
ele queria, pois sabia que a melhor forma de manter algum
controle sobre a situação era não reagindo, como toda
pessoa sensata faz, e evitando que ele exercesse sua
violência prestes a surgir, mantendo-se bloqueada por
estar sem razões para isso.
O seu capanga, um garotão branco vestido de calça lee e
camisa social listrada e desabotoada, mostrando o seu peito
adornado com um colar dourado com uma figa, pegou de
minha mão a sacola, que ainda pensei que pudesse recuperar
depois, pois o que quereria um ser como aqueles de uma fita
de Bach ou João Gilberto? Poderia ele ter alguma fruição do
livro de Proust? O uniforme de ginástica serviria para ele, que
claramente não vestia o mesmo manequim que eu, sendo
magérrimo e bem alto? Bom, talvez ele tentasse os vender mais
tarde para algum erudito mambembe, se é que isso existe.
Eu tremia todo, como se alguma descarga anômala e
arritmica se deslocasse por mim, como uma onda gélida
e horripilante provocada por imagens fantasmagóricas que
me assombrassem e não figuras reais em carne e osso,
materializadas naqueles dois marginais e infelizes criaturas
que exerciam ali seus crimes, diretamente em cima de mim.
Não podia também acreditar que eu tivera, intuíra, uma
premonição, um pensamento que denunciava um acontecimento
futuro e que este se materializara dramaticamente, magicamente,
para mim e que ainda não sabia qual seria e como seria o fim de
tal desventura medonha, pois o pensamento só me avisava do
acontecimento e não do desfecho.
Mas não durou muito tempo. Logo, ele pediu para que
eu vazasse dali devagar, sem olhar para trás nem naquele
instante, nem depois, e nem uma vez só, porque aí as coisas
iam ficar pretas para mim, ameaçou - o que, é claro, eu fiz
sem vacilar. Pensei que talvez pudessem me acertar pelas
costas, para garantia deles, mas não tinha nada a perder,
não poderia lutar contra dois caras armados e mal intencionados.
Caminhei calmo e lentamente para o meu prédio e não
acreditei quando atravessei a portaria, como se nada tivesse
acontecido e peguei o elevador para o oitavo andar, minha casa.
O lugar exato do assalto na Av.Afrânio de Mello Franco
Quando cheguei lá, mal eu bati a porta, já me telefonavam da
Cruzada, conforme a voz se identificou, que achara meu
telefone em minha carteira e se prontificava a me entrega-la,
sem o dinheiro, claro, mas com todos os documentos, isto é,
se eu fosse lá, naquela hora da noite, buscar. O convenci, então,
de a entregar na portaria do meu prédio, pois o forçara a
acreditar que fôra agredido e que estava um pouco
machucado e que não conseguiria chega até lá - é lógico
que eu não me predispunha a ser assaltado novamente num
lugar tão suspeito e temível quanto dentro da Cruzada
aquela hora da noite. Ele afirmou que me entregaria, porque
havia ainda pessoas legais na Cruzada, e que ele era uma
delas, e assim foi. Depois de algum tempo o porteiro me
interfonou dizendo que alguém me procurava na portaria.
Eu desci com o meu pai, deixando prevenida a minha mãe e a
empregada e com o telefone da policia, pedindo à elas que
vigiassem da janela, para que se algo suspeito ou inesperado
acontecesse, ligassem para a policia imediatamente.
Na portaria, do lado de fora, me aguardava um jovem mulato
de aspecto humilde, circundado pelos porteiros e garagistas,
que já sabiam da história. Ele me cumprimentou e começou
um discurso que eu entendia que era, lógico, um pedido de
dinheiro em troca da carteira.
Mas, afinal, ele acabou me entregando a carteira sem problemas,
se justificando, dizendo que encontrara a carteira na rua, que
poderia ter pedido algum dinheiro para devolvê-la, como eu
pensei que ele já fizera. Eu retruquei que todo dinheiro se
havia ido com o assalto e por isso não poderia gratificá-lo,
pois sabia se tratar de um segundo golpe para me tirar mais
dinheiro, que eu já previra.
Contudo, não sei porque razão, não sei se a presença dos
porteiros com telefone na mão, e a presença do meu pai,
o impediu de algum ato violento, ou se, como ele falava,
era mesmo uma pessoa legal da Cruzada. Ele me
entregou a carteira, repetindo o mesmo discurso de estar
entre as pessoas legais do seu lugar e foi se embora.
O episódio terminava sua fase real, para entrar na fase de suas
consequências psiquícas e existenciais, porque então as perguntas,
questões de ordem transcendentais e afins, começaram a pipocar
em minha mente sem que eu pudesse controlar, pois realmente não
aceitava o acaso - que por acaso tive dor de cabeça, que por
acaso na hora exata da dor de cabeça viera aquele pensamento
obsessivo e que por acaso o pensamento se realizara quase
cinco minutos depois em outro bairro. O irreal se transformara
em real, entenda-se numa verdade e isso transtornava toda a
noção do que eu tinha do que é uma verdade. A ciência é o
estudo do real, mas como entender que esse real pudesse
ser previsível por intuição?
A intuição existe, a ciência, a psiquiatria, a psicanálise aceitam ,
mas não explicam muito exatamente como se dá. Como isso
realmente acontece? Existem teorias, mas nenhuma
comprovada ainda.
Intuição é uma palavra derivada do latim - o verbo intuire que
significa "olhar atentamente". Alguns psiquiatras, vindos de uma
origem yunguiana, acham que pode ser uma análise da
intermediação do inconsciente do lado esquerdo do
cérebro, racional e objetivo, com o do lado direito, sensitivo
e subjetivo. Daí a apropriação do verbo em latim que faz uma
espécie de tradução da sensação.
Mas, quanto à mim, não acho que eu olhei, ou melhor
"olhei atentamente" com o meu inconsciente algo que poderia
analisar de qualquer forma possível. Eu não tinha um
pensamento como " eu acho que" , mas uma idéia como
uma certeza absoluta!
Tudo muito estranho! Haveria algum modo de evitar o intuído,
ou eu estava marcado para que ele acontecesse comigo?
Adiantaria passar o tempo em alguma loja, folheando um
livro, ou visitar algum amigo, como cheguei a pensar no
ônibus, o qual por certo riria dos meus temores, ainda por
cima vindo de alguém de minha formação, para despistar
ou mesmo desfazer o que aconteceria?
Adiaria o desfecho fatal ? E se eu evitasse realmente, como
poderia saber que havia fundamento naqueles sintomas
absurdos?
Haveria alguma função para o metafísico que nos transcende
me avisar? Existiria o metafísico? Onde perceber o limite do
que é crível por ser uma verdade que existe de uma
subjetiva e de origem indiscernível?
De que adiantaria saber alguma coisa?
Pois, de nada adiantou a ciência do fato, pois não o
consegui evitar, porque talvez fosse mesmo inevitável
- eu seria assaltado mesmo que elocubrasse mil estratégias
para driblá-lo. Essas questões surgiam sem parar, também
de maneira compulsiva. E continuam até hoje! Já cheguei
até a cronometrar o tempo que o ônibus levou até chegar ao
ponto final, para compreender qual tempo exato que tive
antes que aquela intuíção, da única vez em que eu fui
assaltado, se realizasse.
Continuava não aceitando, descrente.
Seria um acaso mesmo?
Como entender o que se passa no cérebro, diante do
que se passou para mim?
Será que previ o futuro distante em quatro minutos antes
que acontecesse?
Seria um produto da velocidade do pensamento, ou das
ondas de energia que eram provocadas por descargas
elétricas como em todo eletroencefalograma constatamos,
que no caso seria mais rápida que a velocidade da luz,
a ponto de fazer ter um pensamento que só dali a cinco minutos
eu poderia ter tido, pensava eu, delirante? Ou só, apenas, um
simples fruto de um fortuito acaso. Para mim, é como o
surgimento de um desses acasos absurdos, que colaboram
para que pensemos que a vida jamais será entendida em
sua plenitude e que para sempre estaremos diante do mistério
insolúvel da estrutura miraculosa do sem fim.
Acho que nunca saberei a solução e sua última consequência
seja, finalmente, a de servir só para escrever este texto,
me exorcizando de vez de ser mais um daqueles em que
a metafísica trouxera a ponta de um fio a ser desenrolado,
para que saísse ileso de um labirinto em que vivia à espreita
o monstro da insanidade, o Minotauro do não saber, o caos
da razão, ou apenas um contato com outra dimensão.
PS:
Na época, não dei queixa à polícia, pois acreditei ser inútil.
Porém, anos depois, identifiquei o assaltante que me ameaçou
com o estoque e com os inesquecíveis dentes separados na
frente, quando me deparei com ele novamente, e também
senti algo parecido com o que havia sentido da outra vez.
Mas, frente à frente à ele, em outra situação pior do que
essa - no famoso sequestro do ônibus 174, que ocorreu
em frente quase da minha casa, aqui no Jardim Botânico.
Ele era o sequestrador conhecido como Sandro.
Soube que dormia, naquela época, na porta de um hospital
perto dali,o Miguel Couto, que nunca matara ninguém, sendo
uma vítima de uma vida terrível e altamente trágica, e que
assaltava pessoas no Leblon para poder sobreviver.
Mas isso já é uma outra história.
foto - O Globo
O tal Sandro no sequestro do ônibus 174
Que bizarro! É chocante este texto vir de um psiquiatra. Não só de um médico, mas de uma pessoa de um grau de erudição considerável. Os limites da ciência encontram-se ameaçados diante de experiências como esta.
ResponderExcluirFantástico meu querido amigo. Prometo que colocarei nos próximos dias, minha visão sobre este seu relato tão enriquecedor! Algumas coisas pendentes aqui,(do dia a dia, que me consomem) mas com certeza, navegarei neste histórico tão cheio de simbolismos! Abraços meu amigo!
ResponderExcluir