A ansiedade é meu veículo motorizado. É, ele que é o meu transporte preferido que eu nem preciso fazer fon fon, porque sei que alguma coisa boa vai acontecer com a estrada livre pela frente. Eu entro e bato a porta, ligo a chave e pronto - estou indo de encontro à fortuna. Eu sei que o que quero vai logo aparecer. E como eu chego? Sei lá! Um pressentimento feliz que vem do não-sei-o-quê e não-sei-onde ou não-sei-como, mas que vai surgindo e eu sigo, persigo correndo, voando, além de quando eu passo a terceira. Me sinto numa corrida de grande prêmio de formula um. Só espero que não seja um delírio tolo, a compensar essa estrada acidentada, cheia de buracos, de mão única, porque o real não perdoa ultrapassagens e cobra um pedágio tão custoso em valia, que é melhor nem pensar em ser multado, porque aí, sim, é falência no duro. Isso não tarda a tirar qualquer sentido e qualquer graça que haja numa novidade que possa aparecer, que eu tenho vontade de até de cobrir o rosto com uma máscara de palhaço, daquelas bem absurdas, que fique parecendo uma ridícula fantasia de um hipopótamo atropelado pintado para o Carnaval, uma pretensa e patética criação de uma escola de samba para me castigar de tal abuso e representar minha humilhação. É como um vento que levanta a pipa de uma criança e de repente aumenta e sai embora carregando a bendita, enquanto uma criança, com cara de quem entornou o mingau quente no colo, a vê sumir na tarde entre as nuvens alegres e malandras do pôr-do-sol. Mas, não adianta. Talvez, a verdade dessa vez não doa e a pipa fique firme nas mãos do guri que corre na praça, dono do pássaro feito de papel de seda barato, com a cauda serpente de linha e tiras coloridas, que lhe acena como se dizesse que melhor é a coragem de fazer voar e que sem risco não há lucro, que tentar sempre abrirá vantagem sobre quem fica só olhando os outros correndo nas pracinhas empinando a mais linda pipa que planou sobre as suas cabeças. Então, percebo que a novidade talvez fosse saber só disso, não só sobre empinar pipas, mas a oportunidade de correr um risco, como eu tinha corrido pela estrada, o risco de saber que eu posso ser feliz como aquela pipa tremulando lá em cima, colorida, vitoriosa. Deitei, fechei os olhos e a ansiedade havia passado. Não precisava mais dirigir meu carro maluco. Lentamente o sono vinha. Me ajeitei sob as cobertas e pensei: - talvez em sonho eu veja o amanhã e que amanhã também será um sonho! Amanhã...amanhã...amanhã...Quem sabe? Soltem os carneirinhos!
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