terça-feira, 6 de abril de 2010

Meu encontro com o Godzilla




E se eu fosse assim como uma sobremesa de um monstro venusiano?

Eu, esse ser à toa, chinfrim, espantalho lunático, ainda me complico

 mais - como posso pensar em tais seres absurdos em minha cabeça

a me devorar ?

Eu  me defendo escrevendo compulsivamente qualquer loucura

e penso: - o insano me comove ou será que me faz que me ache, que

eu me descubra?

De que me serve escrever essas coisas?

 E a lapiseira corre e continuo a divagar, a lapiseira a correr, girando

os dedos no ar e a apontar para o papel, apontando algo que não vejo

e com o qual me desaponto.


Atravesso as ruas e continuo em minhas divagações mesmo com os

sinais abertos e carros buzinando.

Continuo a pensar em animais gigantes e ameaçadores, bilhetes

lacrados, na última sessão de cinema, nas minhas memórias

malucas, nos megabytes, no correio, nas limonadas, nos flertes na

madrugada, em dinheiro e amores fugidios, no que não existe, no que

não vem e aí,pronto, danou-se, a cabeça passa a doer, explode.


É claro que quando se mexe com verdades, e se estas são

contundentes, é como se abrisse a sessão de uma tortura sem

nenhum ganho prazeroso, pois são reais, machucam de verdade,

e nada posso fazer para apaga-las.

Então, funcionam como um filme de quinta .


Mas é o real, não uma ficção com  monstros lunares, marcianos,

ou sejam puros delírios masoquistas.


Mas as verdades não seriam também monstros cósmicos?


Se o planeta Vênus é o planeta do amor e a dor de amor é uma

verdade real, então esta não pode ser um ser venusiano ou um

monstro vindo de Vênus a me devorar e a todo o meu coração,

meus pensamentos, minha sanidade, como um legítimo banquete

venusiano? Ou seria, vindo do planeta em questão, mais válido

um ataque de uma nuvem de cupidos assassinos, disparando

flechas apaixonantes por todos os lados, disseminando uma

praga de paixões virulentas entre todas as pessoas, não

respeitando laços familiares ou questões éticas básicas

como entre pessoas no trabalho, médicos e enfermos nos

hospitais, comandantes e soldados nos quartéis, presidentes

e faxineiras, professoras e vendedores de pipocas e de

goiabada dos recreios, pastores evangélicos e mafiosos,padres

e pecadores infantis, idosos dos asilos e garbosos salvavidas

atléticos ou bombeiros despojados. Já se imaginou a onda de

crimes por ciúme ou inveja, o descalabro que se desencadearia

se tal coisa acontecesse por aqui? Seria o fim do mundo! O fim

por intermédio do amor e de Vênus, transformando toda terra

num bacanal psicótico, numa orgia destrutiva e insalubre. Teria

que provavelmente intervir com meus superpoderes através da

internet, das tvs e rádios, fazer discursos em praças públicas aos

despudorados e salvar um sem número de apaixonados, voando

entre as turbas enlouquecidas e despidas, loucas por só mais

um beijinho!

Acho que estou perdendo em não ser um herói intergaláctico e ter

a minha própria pistola de raios de abater paixões temíveis, aquelas

que surgem babando e pedindo meu coração para estraçalha-lo

por fome de amor .

Acho que tenho que ver mais filmes de guerra nas estrelas e saber

de toda as técnicas, os abrigos de sobrevivência intergaláctica, o

manuseamento de lança raios antimonstros e anticupidos e mais

toda parafernália, em caso de ataque de bicharocos meio grudentos

ou se o Jurassic Park se expandir de Hollywood até aqui.

Que perigo!


E isso pode acontecer! É só comprar o bilhete para uma sessão

de um filme que não agrade ao seu amor e o que estava

adormecido lá dentro se rompe. A imagem familiar bonitinha

que você estava acostumado desaparece e se transforma num

relâmpago, surgindo então:

- tchantchantchantchan... um tiranossaurus rex se movendo para

cinemas lotados e destruindo tudo ao redor, varrendo com a sua

cauda casais de namorados das poltronas, voando pelo ambiente

apagado e dilacerando com as lâminas afiadas dos seus dentes os

decotes, que gotejam saliva e sangue, os espectadores em pânico

que tropeçam atabalhoadamente, uns por cima dos outros, no

desespero de fugir do encontro maligno, tudo isso entre chuvas

de pipocas e copos de cocacola, assobios, gritos histéricos e

mulheres berrando : - eu não disse que filme esse não prestava!


Vai se dormir com isto na cabeça! Não dá para dormir com

um tiranossaurus fazendo café na cozinha e dizendo: - vai dormir,

meu bem! Eu te janto depois!


Todo possível amor é um possível Godzilla ou um bichinho pelúcia!

Cai nessa!

Eu sou mesmo um ser chinfrim, à toa, um palhaço lunático.

Que nada! tudo besteira!

Eu sou assim!

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