esse monstro medonho agora me ataca
eu frágil
eu risonho
eu temeroso
eu só coragem
eu despreparado
eu pronto agora
eu perdido de aqui estar, me atraco contra sua fúria e seguro sua pata
e lhe aplico todos os golpes que sei
urro
xingo
grito
esmurro
bato
passo rasteira
torço seu braço
chuto seu corpo
me amaldiçoo por não ser um herói de um blockbuster milionário
e continuo o embate sangrento
evitando seus dentes amarelos, gosmentos e carniceiros
tremendo pelo esforço de com a tremenda besta lutar
esse monstro medonho agora me ataca
rolamos pela lama, rocha e terra, sangue e lama, sujo e cansado nesse esforço
eu embolado
eu prisioneiro em luta, talvez com um fruto da minha imaginação que algum remorso encerra e agora liberta para se vingar
mas que não tem dó
e piedade foi um sentimento que nunca conheceu
e que também não aceito enquanto viver e puder brigar
cena de Vinte mil léguas submarinas
esse monstro medonho agora me ataca
vil, violento, impiedoso embate que nunca compreendi
como ainda nada compreendo até hoje
como vencer
como suportar o que sei, o que vi, incógnita surpresa
esse gigante em espirais surge, ruge e golpeia como Bruce Lee
esse monstro agora me ataca
e agora sei que dele também faço parte, todos já esperavam isso em mim
afinal, assim se delineia o sucesso, essa é a vitória - ser Arte
existir é assim, como ser um Artista que se abstrai pelo amor, para além do comum e da hecatombe
e apesar de sofrer, a rodopiar em um grotesco motor, que é o Todo
o sentir nosso - o Dele
onde vou do onde vamos, onde estou...
somos todos um só
dentro Dele estamos
até que não nos consideremos separados
não há nada à parte
mas tudo mudou
todos somos monstros
todos somos anjos
todos somos esse Ser puro que amamos
penso
e sinto
não há mais fera
e tudo em mim levitou
Eu sou o Marcos Vasconcellos. Aqui eu escrevo o que me der na telha, o que me vem na hora de dormir, quando estou num onibus, ou no meio de um papo chato!
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Tanto,tanta
tanto espera
tanto faz
de mim se encontra
o que ainda de mim será
desenho a hora
desfaço o tempo
o meu caminho
é o que se constróe
dissolvendo exemplos
tanta espera
tanto quiz
tanto isento
da minha culpa
e do meu tolo intento
mas, às vezes, não caio em mim
mas ainda tento
porque sou largo mundo
e quase as bordas arrebento
tão grande assim
como a luz em um segundo
e, se não for, então
surpresa
invento
sábado, 21 de agosto de 2010
O que será?
cena de Asas do Desejo
o que será de mim?
será o tempo meu fôlego?
ou o sopro fortuito do que vem?
será o desejo o meu desenho do que vejo
ou do que sou?
ou será um pretendido espaço destinado à quem vem
mas para quem?
será o risco traçado de uma amanhã perdido
quase apagado
que não me permitirá a que eu um mar pinte
e não lhe colha suas ondas com tinta?
ou um pássaro que lhe adivinhe o seu voo?
o que será que é o que salva alguém
de uma ilha sem ninguém?
o que será de mim
de um íntimo tão breve,
curta flor de um vaso cristalino
sobre uma mesa polida para um jantar de domingo
em que não se serve bom vinho
e os presentes não retribuem um cumprimento?
e a minha memória tão longa
será sua terra arrasada
tua toda morada?
ou a confiança de toda beleza
ali crescida
essa frágil criança ali, perdida, deitada
agora aquecida, protegida de toda tempestade
por minhas mãos mornas
a dormir sem percalços e sem nenhuma porta fechada?
o que será de mim
se eu vejo amanhã
ou tuas tardes que não esqueço?
será como um rio?
será como a chuva?
será como a lama na luz da estrada?
que me importa, se o sol já seca o caminho e a te encontrar por ela desço
se a felicidade para mim já se revela a ser encontrada
e, entre meus braços, a tomo como parte minha
a que se encaixa perfeita na minha obra inacabada
mas, e se, de repente, as folhas se rasgam e se desfazem
nuvem a fugir entre meus dedos como poeira seca
de um livro sem alma e sem letras a contar uma história complicada?
como saberei sua prateleira?
como identificarei meu destino sem capítulos e um parágrafo final?
como o fecharei a elocubrar o que acontecerá quando a página for virada?
o que será do que imagino?
o que será desses barcos de papel em meu oceano de lençóis e folhas brancas?
mas se o que devaneio é sempre a miragem de uma mente chuvosa,
que por entre trovões e rios em cachoeira, imagina uma sala seca cheia de amigos alegres
felicitando sua chegada com gritos e vivas e taças cheias, confianças sobrecarregadas
em vez de se proteger, e ao seus anos de futuro, em uma cápsula encerrada
numa frágil bolha de garantias materiais, como se ali, o que lhe faz brilhar os olhos,
permitisse o seu eterno aconchego
o que será da noite que curva pelas ruas e desaparece na névoa?
o que será da luz?
o que será do fim?
o que será se nada adianta?
o que será se tudo que acontece, mesmo sem sentido, é o sentido
da parte de uma trama sem sentido que o transcendente trama?
o que será de ti, a alegria que eu acreditava
se não for então essa alegria absoluta e à mim sobrar só ficar pensando, largado nessa cama
será, então, a verdade
um corpo largado
sobre a calçada suja
a ver uma bela morada que não tem a chave
e não conhece o dono para lhe pedir acolhida ou um copo d'água?
ou do nada refulge
o brilho
que nos acolhe querido
e diz
essa aqui é a sua casa!
o que será?
o que será?
o que será?
o que será de mim?
será o tempo meu fôlego?
ou o sopro fortuito do que vem?
será o desejo o meu desenho do que vejo
ou do que sou?
ou será um pretendido espaço destinado à quem vem
mas para quem?
será o risco traçado de uma amanhã perdido
quase apagado
que não me permitirá a que eu um mar pinte
e não lhe colha suas ondas com tinta?
ou um pássaro que lhe adivinhe o seu voo?
o que será que é o que salva alguém
de uma ilha sem ninguém?
o que será de mim
de um íntimo tão breve,
curta flor de um vaso cristalino
sobre uma mesa polida para um jantar de domingo
em que não se serve bom vinho
e os presentes não retribuem um cumprimento?
e a minha memória tão longa
será sua terra arrasada
tua toda morada?
ou a confiança de toda beleza
ali crescida
essa frágil criança ali, perdida, deitada
agora aquecida, protegida de toda tempestade
por minhas mãos mornas
a dormir sem percalços e sem nenhuma porta fechada?
o que será de mim
se eu vejo amanhã
ou tuas tardes que não esqueço?
será como um rio?
será como a chuva?
será como a lama na luz da estrada?
que me importa, se o sol já seca o caminho e a te encontrar por ela desço
se a felicidade para mim já se revela a ser encontrada
e, entre meus braços, a tomo como parte minha
a que se encaixa perfeita na minha obra inacabada
mas, e se, de repente, as folhas se rasgam e se desfazem
nuvem a fugir entre meus dedos como poeira seca
de um livro sem alma e sem letras a contar uma história complicada?
como saberei sua prateleira?
como identificarei meu destino sem capítulos e um parágrafo final?
como o fecharei a elocubrar o que acontecerá quando a página for virada?
o que será do que imagino?
o que será desses barcos de papel em meu oceano de lençóis e folhas brancas?
mas se o que devaneio é sempre a miragem de uma mente chuvosa,
que por entre trovões e rios em cachoeira, imagina uma sala seca cheia de amigos alegres
felicitando sua chegada com gritos e vivas e taças cheias, confianças sobrecarregadas
em vez de se proteger, e ao seus anos de futuro, em uma cápsula encerrada
numa frágil bolha de garantias materiais, como se ali, o que lhe faz brilhar os olhos,
permitisse o seu eterno aconchego
o que será da noite que curva pelas ruas e desaparece na névoa?
o que será da luz?
o que será do fim?
o que será se nada adianta?
o que será se tudo que acontece, mesmo sem sentido, é o sentido
da parte de uma trama sem sentido que o transcendente trama?
o que será de ti, a alegria que eu acreditava
se não for então essa alegria absoluta e à mim sobrar só ficar pensando, largado nessa cama
será, então, a verdade
um corpo largado
sobre a calçada suja
a ver uma bela morada que não tem a chave
e não conhece o dono para lhe pedir acolhida ou um copo d'água?
ou do nada refulge
o brilho
que nos acolhe querido
e diz
essa aqui é a sua casa!
o que será?
o que será?
o que será?
sábado, 7 de agosto de 2010
subi a negra montanha
subi a negra montanha
conhecê-la é o meu fim
a encosta é cruenta, mas apoio os pés me equilibrando na ponta de cada rocha pontiaguda
e de vez em quando escuto um punhado de terra escura com areia e pedregulhos despencando
até lá embaixo
até onde não vejo mais o fim e a imaginação não alcança
até o abismo dos dias perder-se na memória do sem fim e do tempo que se apaga
subi a negra montanha
durante esse tempo, penso em tudo que sempre me acorrentou àquela direção
àquela minha estrada reta e rasa
àquela totalmente previsível
àquela que era assim
perfeita por nada se questionar
e por isso ser aceita por todos
comum acordo ao lugar nenhum
até quando, de repente, ela se eleva à minha frente
surge abruptamente como uma vontade de alguém
a me questionar
a me colocar uma grande incógnita em meu caminho
e que se faz como um temeroso afrontamento
um desgosto gigantesco em aparência
gostando de me fazer pouco
duvidando do que eu estou afim
do que sou capaz
do que é meu destino inadiável
a obcessão plena em minha vida
pelo desafio que só eu posso vencer
porque tem o meu nome
porque eu quero
porque eu acredito
porque eu o vencerei
subi a negra montanha
escalo esse deserto de pedra numa luta a tocar clarim
não existem milagres
tudo que existe tem explicação
a razão que não existe para o que se sabe, não sabe ela mesmo de mim
mas se ela existisse com a lógica, a própria não seria desse jeito
porque nem em tudo há coerência
não existiria sentido de sentir sem te fazer conhecedor da dor, a única que sabe porque vim
subi a negra montanha
e vejo que tudo que toda criatura vê
e jura que é o resumo do que está a perceber
mas quando chega à montanha, ao cume
com a paisagem a se resumir pelos olhos, percebe então que tudo é só um milagre
começando a agir - o imaginar que há em você
que sem o limite do horizonte, entende que assim a vida se resume
além do A à Z
subi a negra montanha
aí tudo faz sentido
na direção que o céu está acima
agora é o céu que teu corpo toca
não me desfaço então de mim, porque já começo a entender tudo
tendo visto que o vi até hoje, o que se passou torna a ser refeito
com tudo que a nossa mente invoca
e o que não fazia sentido até então
é o que mais se encaixa no horizonte de eventos
é o que faz tudo se ajustar ao seu caminho
como toda dor é agora tem seu porquê
como todo farinha de trigo, que faz o pão que nos alimenta
passa antes pelo seu moinho
subi a negra montanha
prefiro olhar o luar daqui
e lá pra baixo o mundo continua
pois quando, em espanto, o que não via por ser oculto, por ser claro e exposto
se revela ali subitamente, sem sobreaviso
e por isso, rio e grito, quando descubro que ali também há felicidade
se a montanha, surpreendentemente, ao acaso, a ti invoca
quando, do abismo, um sopro de seu igneo coração derrete o gelo
e o vapor gelado de luz se atravessa e dos confins um arco íris se desloca
reflito sobre o frio que me circunda e me digere quando você não me toca
subi a negra montanha
e até ali, meu sentimento petreo se racha em doce quebranto, que em mim fervia
e expõe uma nova abertura, uma nova via, que me desvia do que eu não via
ou ainda mesmo não existia
porque a fiz com minha inocência de se maravilhar com as possibilidades
de um devir feliz e incompreensível
a porta aberta entre o céu e a Terra
que se desconecta da cruel natureza da matéria
e se dirige à inefável e celeste morada da alegria
subi a negra montanha
e vislumbro então um infinito conforto nesse futuro de meu caminho
porque em mim é agora a verdade é o desejo
que a mim agora se encosta
afaga
toca
geme
sussurra
implora
e eu o possuo
e o seu corpo é a tranquilidade
de um pouso seguro e querido
subi essa negra montanha
e essa montanha para mim é como um o sonho, é quase um nada
e me pergunto que ideia a minha, como eu podia ser tão maluco de tamanha empreitada
por uma montanha que é uma fantasia
delirio transtornado e louco
se podia seguir meu caminho tranquilo
a arriscar a toda a vida que eu ainda tinha
por tamanha insensatez
para me elevar sobre uma rocha perdida erguida
do não se sabe aonde, por não se sabe o quê
que me acena com um caminho em trevas
mas eis que, quando eu assim pensava
entre nuvens e clarões se revela um portão a se abrir
e chego à um salão de arco íris formado e de altas grandezas ao cume forrado
como em gelo e cristal bruto e de bronze dourado
e que a bênção, grandeza e gozo internamente me invoca
só ainda que mais me surpreendo, porque já então sequer imaginava
que tudo isso ali
todo esse sublime, todo esse andor de maravilhas
é apenas onde lhe construi entre as nuvens e o completo êxtase
um lugar só para ti
indestrutível, indevassável
e para sempre
onde todo meu sincero amor por ti aloca
e agora sei
ninguém mais nos separa
ninguém mais nos afasta
e certo disso
senti então um súbito calor que a mim me completa
e era a sua presença enfim
que depois de me fazer entender tudo
me surgiu
por merecimento e dádiva
por alcançar o meu objetivo
então, se fêz meu descanso
o que ali nas alturas não pensei que existisse
que por fim me recebe, sorri, se aproxima
e me abraça
ilustração por Gustavo Doré
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